Faturamento das empresas de máquinas agrícolas deve cair 20% em 2023, diz Abimaq

Globo Rural 

 

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso, disse que o patamar de juros elevados no país e a queda na rentabilidade dos produtores rurais, com o tombo nos preços das commodities agrícolas neste ano, frearam os negócios do setor. O ritmo de vendas de maquinários para o campo está menor e o faturamento das empresas deste ramo deve cair 20% em 2023, para cerca de R$ 75 bilhões. No ano passado, os negócios renderam R$ 94 bilhões.

 

“Estamos com uma queda de 20% nas vendas de máquinas agrícolas, mas quando se olha os demais ramos da Abimaq a queda está um pouco acima de 10%”, disse à Globo Rural. “A queda de vendas das máquinas agrícolas tem a ver com a queda de renda no campo. Os preços das commodities caíram, os preços dos insumos também, mas não acompanharam, e a pecuária está com problema de renda baixa também. Então diminuiu o investimento”, completou.

 

A demora do Banco Central para iniciar o ciclo de redução da Selic, disse Velloso, também interfere nos negócios do setor. “Na indústria como um todo, um grande problema nosso é o custo de capital. Hoje em média, tirando o agro, que tem o Plano Safra, o financiamento de máquinas está custando na ordem de 20% a 24% ao ano, e isso inviabiliza o retorno de investimento”, apontou.

 

Mas mesmo o dinheiro do Plano Safra 2023/24, cuja taxa de juros é de 12,5% em linhas como o Moderfrota, não tem sido utilizado no ritmo habitual neste ano. “Hoje tem recursos no Moderfrota e não estamos vendendo”, destacou Velloso.

 

De julho a setembro deste ano, foram desembolsados R$ 2,3 bilhões em operações do Moderfrota, principal linha para aquisição de máquinas e equipamentos, dos R$ 11,8 bilhões disponibilizados no Plano Safra 2023/24. O resultado é 44% menor que o alcançado nos três primeiros meses da temporada passada, quando haviam sido liberados R$ 4,2 bilhões. Ao todo, o desempenho das linhas de investimentos para médios e grandes produtores está 35% menor na comparação com o trimestre inicial do ciclo 2022/23.

 

Pedro Estevão, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Equipamentos Agrícolas da Abimaq, disse que os produtores não estão acessando tanto o Moderfrota por conta dos juros considerados altos diante da expectativa de queda nos próximos meses. “O produtor vê que pode baixar a taxa no ano que vem e resolve esperar, não faz o investimento”, apontou.

 

Mesmo assim, parte do setor tem investido capital próprio ou buscado outros tipos de financiamentos para comprar máquinas. “O Moderfrota está sendo menos demandado do que a venda está caindo, ou seja, o produtor está se virando com outra coisa”, completou.

 

Apesar desse cenário, a perspectiva é que os recursos para compra de máquinas e equipamentos no Plano Safra 2023/24, que inclui linhas do Pronaf, devem acabar no fim do ano, disse Pedro Estevão. “A indústria fatura mais de R$ 70 bilhões e o Plano Safra disponibilizou cerca de R$ 16 bilhões nesses programas. Não supre toda a demanda, está muito longe”.

 

Pedro Estevão disse que ainda não há nenhum gatilho que indique aumento nos ritmos das vendas de máquinas agrícolas para o ano que vem. A demanda mais contida acompanha a desaceleração na expansão de novas áreas, puxada pela queda nos preços de soja e milho.

 

“Em 2020, 2021 e 2022 houve aumento de 12 milhões de hectares de área plantada, é muita coisa, cerca de 5% ou 6% ao ano de aumento. Nesses anos, teve mercado de reposição de máquinas e expansão de área. Em 2023, não tem mercado de expansão. Já em 2024, se não tiver expansão significa que as vendas ficariam iguais às deste ano”, apontou.

 

“O que faz aumentar a área é a rentabilidade. Se não tem aumento de área ou é pequeno, isso não gera demanda para máquinas e investimentos. O cenário é de que o ano que vem será igual a esse”, concluiu Estevão.

 

José Velloso, presidente da Abimaq, disse que, na indústria em geral, 80% das compras de máquinas são feitas com capital próprio e que 95% dos investimentos no Brasil são realizados por empresas que têm lucro real, o que aumenta a concentração de renda dos mais ricos e a distância para os pequenos negócios. “O pequeno, que não tem dinheiro em caixa, não investe, por isso a taxa de investimento cai. O investimento é menor do que a depreciação. O Brasil está sendo sucateado, repondo menos do que está envelhecendo. E há concentração de renda, pois quem investe está no lucro real”. (Globo Rural/Rafael Walendorff)