O Estado de S. Paulo
Aprévia da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) foi uma boa surpresa. Ficou em 0,21%, abaixo de 0,28%, que era a expectativa média dos analistas. No período de 12 meses, o IPCA-15 ficou em 5,05%.
Para quem não se familiarizou com a sopa de siglas dos medidores de preços, o IPCA-15 é a mesma inflação de 30 dias, com a diferença de que, em vez de se ater ao mês-calendário inteiro, é medida do dia 15 de um mês ao dia 15 do mês seguinte.
A novidade mostrada por esse levantamento foi a de que a inflação do setor de serviços, a mais resistente a ser domada pela política de juros, começou a se enquadrar.
Pela evolução demonstrada, dá para contar, para todo este mês de outubro com uma inflação em torno de 0,25%. Deve ajudar nessa desaceleração dos reajustes de preços, a redução das cotações da gasolina decidida há duas semanas.
A principal consequência dessa evolução mais moderada do custo de vida é o ritmo da política monetária (política de juros). O Copom vai se reunir dia 1º/11 para mais uma redução dos juros básicos (Selic). Já ficou avisado de que o corte planejado é de 0,5 ponto porcentual, para 12,25% ao ano. Apesar dessa predisposição, subsiste a pressão para que o corte seja maior, de 0,75 ponto porcentual. No entanto, pesam contra isso dois fatores, um interno e outro externo.
O fator interno é o rombo nas contas públicas, maior do que o prometido pelo ministro da Fazenda, que tende a alargar-se à medida que o governo vai cedendo às pressões dos gastadores de sempre. Desarranjo fiscal é mais dinheiro circulando na economia, ao contrário do que pretende o Banco Central, que é dinheiro mais curto.
Na área externa dois focos de tensão podem trabalhar contra juros mais baixos por aqui. Um deles é a tendência de alta dos preços do petróleo em consequência da guerra de Israel contra o Hamas. O outro foco é o jogo dos grandes bancos centrais, especialmente o do Fed (banco central dos Estados Unidos), que pode entender como inevitável novo puxão nos juros, que por lá estão nos 5,50% ao ano. Ainda nessa quarta-feira, o Departamento do Comércio divulgou os números do PIB dos Estados Unidos no terceiro trimestre. E veio um PIB bem mais volumoso do que o esperado: avanço de 4,9% em termos anuais. Como o mercado de trabalho por lá continua pressionado (mais procura de mão de obra pelas empresas), a atividade econômica mais forte tende a produzir mais inflação.
Daí porque o Fed pode vir a puxar ainda mais pelos juros, o que bastaria para encarecer o dólar e puxar as aplicações financeiras ao redor do mundo em direção à renda fixa. A conferir. (O Estado de S. Paulo/Celso Ming)