Frota & Cia
As vendas de pneus de cargas produzidos pela indústria nacional mantiveram a tendência de queda no primeiro semestre do ano e fecharam com desempenho abaixo de 2022, configurando o “pior cenário da história do setor”, na visão de de Klaus Curt Müller. presidente executivo da Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP). O cenário contrasta com o aumento verificado de 40% das vendas de pneus importados no período, na comparação com o ano anterior, que somaram US$ 904 milhões, de acordo com a Vixtra, fintech de comércio exterior.
Segundo a ANIP, as importações atingiram o maior volume registrado desde 2000, ainda que a Câmara de Comércio Exterior (Camex) tenha tributado novamente o produto produzido no exterior com a alíquota de 16%, depois de um período de suspensão. Enquanto isso, o produto nacional segue com quedas sucessivas mês a mês, exceto em agosto que apresentou um aumento de 13,3% em relação a julho.
Retorno da Alíquota
Para Müller os “preços desleais” praticados pelo setor de importações constituem o principal fator para a piora do mercado nacional. Além disso, a queda nas vendas, segundo a ANIP, provoca um aumento nos estoques. “Temos visto em algumas notícias que não há oferta de pneu nacional, quando na verdade podemos atender a qualquer demanda de qualquer cliente”.
Ricardo Alipio, presidente da Abidip, que representa os importadores e distribuidores de pneus, rebate as críticas do concorrente ao garantir que o retorno da tributação não impactou nas importações, pois os fretes marítimos voltaram ao patamar pré-pandemia. Para ele, a indústria nacional de pneus possui operações ineficientes, dependentes de subsídios, e são obsoletas em comparação com as instalações asiáticas. “Com ou sem a alíquota, as importações dos países asiáticos sempre foram sobretaxadas com o direito antidumping sob as alíquotas requeridas pela indústria nacional e aplicadas pelo governo federal”.
Isenção da alíquota de 16%
Em 2021, a proposta de isenção de impostos sobre o produto importado foi aprovada pelo então presidente Jair Bolsonaro, sob o pretexto de atender à classe de caminhoneiros que sofria com os aumentos sucessivos nos preços dos principais insumos do transporte, especialmente o diesel.
Contudo, apesar da medida ter reduzido o preço dos pneus importados na ocasião, admite Alipio, o benefício foi em parte anulado diante dos aumentos abusivos do frete marítimo, que ameaçou colapsar o mercado.
“A redução do imposto não representou ganho para os importadores, mas uma medida necessária para atenuar o impacto da alta do frete marítimo. A ABIDIP e a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos lideraram esse pleito junto ao Ministério da Infraestrutura e à Presidência da República”.
Enquanto isso, o mercado nacional de pneumáticos, que começou a apresentar melhora desde uma queda brusca nas vendas de abril de 2020, passou a cair novamente. Müller comenta que a retirada do imposto levou os pneus importados a “preços desleais”, o que prejudicou o mercado nacional de pneus.
O presidente executivo da ANIP também defende que a “medida foi irresponsavelmente colocada pelo governo passado, ainda em um período de pandemia, período o qual, em seu pico, não pode contar com os pneus importados”.
Entretanto, Alipio analisa a situação de uma outra forma. “Além do preço abusivo e descontrolado do frete internacional, a elevação do dólar motivou a indústria nacional a exportar pneus causando desabastecimento interno. As indústrias de implementos rodoviários foram obrigadas a recorrer aos pneus importados devido à falta de pneus da indústria nacional no mercado interno”. A ANIP nega que houve desabastecimento. (Frota & Cia/Priscila Ferreira)