Motor 1
A Chery tem planos ambiciosos para voltar ao Brasil com uma robusta operação própria. Motor1.com Brasil viajou até a China para conhecer os planos e veículos que chegarão a partir do ano que vem por aqui. Nesta nova fase, lançará as marcas Exeed, Jaecoo e Omoda, sem a participação da Caoa, com uma meta ambiciosa de entrar no top 10 do ranking de vendas.
Para apresentar tanto os carros quanto sua estratégia para o Brasil, a Chery International convidou um grupo bem pequeno de jornalistas para viajar até sua sede em WuHu (China) para o Chery Technology Day. O encontro era para clientes, influenciadores e jornalistas dos mercados onde ela já atua, com 600 pessoas de países como África do Sul, Alemanha, Emirados Árabes, Rússia e Turquia, mostrando os próximos produtos e tecnologias. O convite aos brasileiros foi com outra intenção, a de explicar o que são as três marcas, como elas atuam de forma independente e revelar alguns pontos da estratégia de lançamento.
O plano é oferecer as três novas marcas no Brasil. A Chery International afirma que elas são independentes, quase como a Audi e a Porsche funcionam dentro do Grupo Volkswagen. Há um compartilhamento dos custos de desenvolvimento, uma harmonia nos planos para trabalhar juntas, mas a decisão final é de cada time. No caso do nosso país, serão duas operações diferentes, com Omoda e Jaecoo ocupando as mesmas concessionárias, enquanto a Exeed terá uma rede própria.
A Exeed é uma divisão de luxo, vista como o ápice da Chery no momento. Ela nasceu com versões mais refinadas de modelos como Tiggo 7 e Tiggo 8 e, aos poucos, está adotando uma identidade própria. Embora tenha alguns modelos com um design próximo da Chery, como é o caso do Exeed VX, inspirado no Tiggo 8 Pro, o foco hoje é em veículos como o RX e na futura linha Exlantix de elétricos, que iniciará as vendas nos próximos meses com um sedã e um SUV.
A Exeed é o tema mais polêmico e que gerou uma situação bem desconfortável com o Grupo Caoa. Isto porque em 2018, o falecido fundador do grupo, Carlos Alberto de Oliverira Andrade, anunciou que estava preparando o lançamento da Exeed no Brasil. Inclusive existem unidades dos carros da Exeed em testes, avistados diversas vezes. A Chery International diz que irá operar sozinha e, anteriormente, afirmou que a Caoa pode ser um parceiro local, porém sem controlar o negócio. Já a Caoa afirma que tem os direitos de vender os modelos no país e que o lançamento só aconteceria por eles.
No entanto, este é um projeto que demandará mais tempo. Executivos da Exeed comentam sobre um lançamento em 2024, mas admitem que ainda estão estudando o mercado brasileiro para entender como posicionar a marca. São carros que competem diretamente com Audi, BMW e Mercedes-Benz, então terão uma faixa de preço bem mais alta em comparação com as demais marcas da Chery.
Embora tenham comentado anteriormente sobre vender carros a combustão, hoje a estratégia definida é oferecer somente híbridos e elétricos. O primeiro veículo a ser lançado será o RX, um SUV de 4,78 metros de comprimento e que receberá uma versão híbrida plug-in em breve. Também estão confirmados os modelos elétricos da linha Exlantix, com um SUV chamado ET e um sedã batizado como ES. Ambos são inéditos inclusive na China, com o ES começando as vendas até o fim do ano e o ET programado para chegar às lojas em 2024.
A Omoda é outra marca que está escapando das mãos da Caoa. Hoje é uma empresa de um carro só, como o SUV-cupê C5, que está ganhando uma versão elétrica chamada E5. Esse modelo também foi fotografado incontáveis vezes nas ruas brasileiras. Nos seus planos atuais, a Omoda é a principal marca e que irá iniciar toda esta estratégia de lançamento já em 2024. Alex Wang, diretor da Omoda e Jaecoo para o Brasil, adianta que venderão tanto o C5 quanto o E5.
O C5 vendido na China é equipado com duas opções de motores. O primeiro conjunto é formado pelo 1.5 turbo de 156 cv e câmbio CVT de 9 marchas simuladas enquanto o segundo é 1.6 turbo de 200 cv, acoplado a uma transmissão de dupla embreagem de 9 posições. As unidades vistas no Brasil estavam com um 1.5 turbo combinado a um sistema híbrido-leve, provavelmente o mesmo do Tiggo 5X Pro Hybrid e Tiggo 7 Pro Hybrid.
O modelo 100% elétrico, o Omoda E5, mantém quase o mesmo visual das versões à combustão. A diferença está na parte dianteira, sem grade, apenas com uma entrada de ar na parte inferior do parachoque. Seu conjunto propulsor usa um motor elétrico que gera 224 cv de potência usando uma bateria de 61 kWh. Com este conjunto, a Omoda informa que a autonomia com uma carga é de 450 km.
A terceira marca é a que está mais nebulosa. Trata-se da Jaecoo (fala-se “djeicu”), com uma proposta de ter SUVs na mesma pegada que a Land Rover: luxuosos, mas com capacidade off-road. Dois modelos foram revelados até agora, o J7 de cinco lugares e o J8 com capacidade para até 7 pessoas, porém ambos ainda estão em desenvolvimento e até o design será diferente quando forem lançados. Outros dois modelos estão sendo preparados, além de uma versão PHEV do J7.
40 concessionárias no Brasil já em 2024
Para conseguir o seu espaço, a Chery International está trabalhando a todo vapor para viabilizar o lançamento já em 2024. James Tang, diretor de produto da Omoda e Jaecoo, afirma que a meta é ter 40 concessionárias por todo o Brasil já no primeiro ano de operação. “Estamos estudando bastante o mercado brasileiro e ouvindo quais são os gostos e necessidades dos clientes”, explica o executivo.
Estão atentos até às mudanças políticas, trabalhando para que os motores sejam flex, assim podendo receber alguns benefícios do futuro programa Mobilidade Verde do governo federal sobre o uso de etanol.
“O Brasil é 80% do mercado da América do Sul. Se não funcionarmos direito ali, será impossível dar certo na região”, complementa Wang, citando que esta visão sobre o país existe em outras empresas fora do setor automotivo, como a Huawei, onde o executivo trabalhou por muito tempo – inclusive foi morar no Chile por 8 anos, quando a empresa de tecnologia chinesa estava se estabelecendo por lá.
Produção no Brasil
Mesmo com operações separadas, tanto a Exeed quanto a Omoda/Jaecoo falam sobre produzir carros no Brasil, cientes de que o governo brasileiro estuda a volta dos impostos sobre híbridos e elétricos. Em todos os casos, os representes da marca sempre citam a fábrica de Jacareí como seu “centro de desenvolvimento”, porém desconversam sobre o destino do local ou se esta possível fabricação nacional aconteceria em um novo complexo.
A Caoa Chery, que atualmente controla a fábrica de Jacareí, interrompeu a produção “por falta de peças” em fevereiro do ano passado e 3 meses depois anunciou a paralisação completa da unidade até 2025. O comunicado oficial anunciava que a unidade passaria por readequações para produção de veículos elétricos e híbridos a partir de 2025. (Motor 1/Nicolas Tavares)