Após 3 meses de alta, setor de serviços recua 0,9% em agosto

O Estado de S. Paulo

 

O volume de serviços prestados no País recuou 0,9% em agosto ante julho, eliminando parte da expansão de 2,1% acumulada nos três meses anteriores, segundo os dados divulgados ontem pelo IBGE. O resultado negativo superou até mesmo as previsões mais pessimistas de analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast, que previam uma alta mediana de 0,5%. O setor trabalha em patamar 11,6% superior ao de fevereiro de 2020, antes do agravamento da epidemia de covid-19.

 

“Ainda é cedo para dizer se o número divulgado hoje (ontem) revela uma tendência de desaceleração do setor mais forte do que prevíamos. Acreditamos que os serviços devem seguir andando de lado até o fim do ano, impactados pelo efeito dos juros altos na economia. Nossa previsão é de que o setor termine o ano com expansão de 2,7%”, escreveu a economista Claudia Moreno, do C6 Bank, em comentário. “Além disso, por enquanto, o resultado divulgado hoje (ontem) não altera nossa previsão de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 3%, em 2023, e de 1,5% em 2024.”

 

O desempenho do setor de serviços em agosto foi condizente com uma conjuntura marcada pelo nível de juro elevado, corroborou o economista Matheus Pizzani, da corretora CM Capital. “Uma vez extirpados os efeitos artificiais proporcionados por feriados prolongados ou medidas governamentais – vale lembrar que o benefício fornecido pelo governo ao setor automobilístico foi de grande importância para o desempenho dos serviços no segundo trimestre –, o que sobra é, de fato, uma atividade econômica de pouca pujança e sem capacidade de criação de mecanismos endógenos de crescimento.”

 

Inflação

 

Se confirmado o cenário de enfraquecimento do setor de serviços, o Banco Central deverá ter um cenário mais seguro de desaceleração da inflação, opinou o economista-chefe da gestora de recursos G5 Partners, Luis Otavio de Sousa Leal. O desempenho abaixo do esperado no setor pode levar a um crescimento “marginalmente menor” da economia em 2023, embora a perspectiva para o quarto trimestre ainda seja positiva, sobretudo para o consumo das famílias, graças a fatores como o programa Desenrola, o ciclo de redução dos juros, a retomada da confiança do consumidor, a queda do desemprego e a ampliação ainda expressiva da massa salarial, enumerou Leal. “Não se pode falar em inflexão (nos serviços) ainda”, afirmou Luiz Almeida, analista da pesquisa do IBGE. “Os setores que tiveram as maiores influências nessa queda vêm de alta elevada nos últimos meses”. (O Estado de S. Paulo/Daniela Amorim e Daniel Tozzi Mendes)