‘Supercana’ é aposta para suprir carros híbridos de etanol

O Estado de S. Paulo

 

Nova variedade mais produtiva, resistente a pragas e tolerante a herbicidas pode garantir o abastecimento da frota de carros híbridos flex.

 

Cana-de-açúcar turbinada, 40% mais produtiva que a média daquelas cultivadas atualmente, resistente a insetos, ervas e fungos e mais tolerante a herbicidas deve chegar em breve ao mercado para cultivo. A nova variedade é desenvolvida pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) há oito anos. Melhorada geneticamente, é uma das apostas dos produtores para garantir o abastecimento de açúcar e etanol.

 

O centro também trabalha no lançamento de sementes sintéticas que vão facilitar o plantio e reduzir os custos da produção, além de cana-deaçúcar transgênica resistente a várias doenças. O Brasil é o maior produtor de cana do mundo, com 650 milhões de toneladas ao ano.

 

Com os planos das montadoras de aumento da produção local de automóveis híbridos flex e do uso do etanol como fonte do hidrogênio para carros a célula de combustível, e o projeto do governo federal de aumentar a mistura na gasolina de 27% para 30%, a demanda pelo produto vai crescer. O etanol também é estudado como matéria-prima para o combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês) e para movimentar navios.

 

Incentivos ao uso do combustível em novas tecnologias de mobilidade devem ser incluídos no programa Mobilidade Verde e Inovação (antigo Rota 2030), a ser anunciado nos próximos dias pelo governo, que vê o etanol como essencial no processo de descarbonização do transporte no País.

 

Paira o receio de que possa faltar álcool, como ocorreu no passado, mas, além da “supercana”, outras opções começam a ganhar espaço na produção do combustível, como o uso do milho e cereais, sem riscos de substituição de seu uso como alimentos, segundo os produtores. Hoje, mais de 80% do etanol produzido no País vêm da cana-de-açúcar.

 

“Estamos num momento muito positivo em que o etanol está sendo reconsiderado como o combustível do futuro”, diz Fábio Hayashida, diretor de Recursos Humanos e de Comunicação do CTC. Segundo ele, a cana-de-açúcar é a cultura mais eficiente na captura de carbono em comparação ao milho e à soja.

 

A empresa CTC vai abrir seu capital para negociar ações na Bolsa de Valores. O pedido de IPO (sigla em inglês para oferta pública inicial) já foi feito. Tem 90 grupos acionistas, entre eles Copersucar, Raízen e Usina São Martinho. Emprega 500 profissionais, 60% deles na área de pesquisa e desenvolvimento (P&D).

 

O processo de melhoramento da cana envolve cruzamentos de 1,5 mil variedades. Elas geram cerca de 560 mil mudas que passam por diversas seleções ao longo de oito a dez anos. Ao final, são selecionadas uma ou duas variedades campeãs que serão lançadas no mercado. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)