AutoIndústria
A Renault foi uma das primeiras marcas a oferecer veículos elétricos no Brasil. Desde 2013, porém, limitou-se mais a desenvolver a imagem da tecnologia do que propriamente vendê-los. Tanto que preferiu inicialmente importar o minúsculo Twizy e depois o Zoe, ambos quase que exclusivamente destinados a frotas corporativas.
Foi somente a partir de meados de 2022, com a chegada do Kwid E-Tech, trazido da China, que a marca, de fato, entrou na briga por um naco mais relevante do segmento que ganhou impulso sobretudo a partir deste ano. A fase de, digamos, experimentação ficou para traz e agora, com o início das vendas do Megane E-Tech, a Renault amplia seu poderio.
O Megane movido a bateria passa a ser o produto topo de linha da Renault no País. Servirá como referência das possibilidades tecnológicas da marca, mas também para alcançar um público consumidor com o qual até agora a empresa “não conversava” e que já está bem mais inteirado no universo — e seduzido por ele — da mobilidade elétrica.
“O perfil desse cliente se define nos chamados early adopters, que buscam alta tecnologia e o que há de mais moderno em design, além de sofisticação e soluções inovadoras para os desafios de uma mobilidade sustentável”, define Aldo Costa, diretor de marketing.
E, diga-se, que tem também maior poder de compra, está disposto a pagar R$ 280 mil por um automóvel e, por conta disso, tem muito mais opções do que os potenciais clientes do Kwid E-tech, que somente a partir de agora ganhou concorrentes na mesma faixa de preço ou até abaixo.
O Megane E-Tech vai disputar clientela com produtos de marcas ditas premium, mas sobretudo com os representantes das “newcomers” chinesas, que avançam de forma acelerada entre os eletrificados, especialmente nessa faixa de preço.
A empresa não revela quantas unidades espera vender do novo elétrico. Mas será muito pouco, já que, questionados, seus executivos admitem que o modelo cumprirá apenas a função de vitrine e de pontapé inicial de renovação do portfólio de produtos.
De qualquer maneira, cada unidade do novo carro vendida representará um ganho para a Renault por se tratar de um novo segmento. A marca vem precisando de toda e qualquer ajuda nesse sentido.
Depois de chegar à quarta posição no ranking das mais vendidas do mercado brasileiro, com 9% de participação, encerrou o ano passado com 6,7% e de janeiro a agosto de 2023 deteve somente 5,7% dos automóveis e comerciais leves licenciados, o que a coloca no sétimo lugar e com recuo de 0,8% em um mercado que cresceu quase 11%.
Colaboraram fortemente para isso o envelhecimento da linha de produtos e seu encolhimento, com a eliminação da produção e oferta de modelos nacionais e importados. O carro nacional mais novo em produção é o Kwid, que já cumpre seu sexto ano de mercado, passou por atualização estética no ano passado e responde por 45% dos emplacamentos da Renault.
Nova família de veículos
Esse movimento, entretanto, começa a ser revertido agora, com a própria apresentação do Megane E-Tech e, especialmente, a partir de outubro, quando será lançado o Kardian, SUV compacto fabricado no Paraná e candidato natural a líder de vendas da marca em 2024.
Desenvolvido sobre a plataforma CMF-B da Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, terá com motor 1.0 turbo de três cilindros e será substituto do Stepway, já em sobrevida garantida por aparelhos.
A mesma plataforma, afirma Ricardo Gondo, presidente da Renault, dará origem a uma família de veículos, a exemplo do que ocorreu com a arquitetura atual, base para Sandero, Logan, Captur e Duster.
Prazos para esses lançamentos, entretanto, dependerão do novo ciclo de investimentos a ser definido em breve, segundo Gondo. O atual, de R$ 2 bilhões e iniciado em 2022, termina exatamente com o Kardian. (AutoIndústria/George Guimarães)