O Estado de S. Paulo
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu a taxa Selic em 0,5 ponto porcentual, para 12,75% ao ano. É o menor nível desde maio de 2022. Embora não tenha citado a questão fiscal entre os fatores de risco para a inflação, o Copom destacou em comunicado a importância de o governo cumprir as metas assumidas. E ressaltou a relação entre esse objetivo e a redução das expectativas de inflação em prazos mais longos. O objetivo de déficit zero nas contas públicas em 2024 enfrenta resistências de parte de integrantes do próprio governo e no Congresso, mas o ministro Fernando Haddad (Fazenda) tem afirmado que ele é importante para indicar o compromisso com o equilíbrio das contas. Nos EUA, o Fed (o banco central americano) manteve a taxa de juros.
Em decisão unânime, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou ontem nova redução de 0,5 ponto porcentual para a Selic, que caiu de 13,25% para 12,75% ao ano – menor patamar desde maio de 2022.
Apesar de não ter citado a evolução da questão fiscal entre os fatores de risco para a inflação, o Copom dedicou um parágrafo no comunicado divulgado após sua reunião para destacar a importância de o governo cumprir as metas de resultado primário já estabelecidas, sob o risco de limitar a queda da taxa básica de juros.
Enquanto o mercado tem levantado dúvidas sobre a capacidade de a equipe econômica atingir a meta de déficit primário zero fixada para 2024, o Copom destacou a relação entre esse objetivo e a convergência da inflação futura para patamares menores.
“Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o comitê reforça a importância da firme persecução dessas metas”, destacou o colegiado.
A manutenção da meta de déficit zero no próximo ano tem enfrentado resistências de parte de integrantes do próprio governo e ainda no Congresso, mas o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem afirmado que ela é importante para indicar o compromisso do governo com o equilíbrio das contas públicas. Para atingir a meta, porém, o governo ainda tenta garantir pelo menos R$ 168 bilhões em receitas extras.
Ainda no comunicado, o colegiado voltou a prever para as próximas reuniões novos cortes na mesma intensidade – ou seja, de 0,50 ponto porcentual.
Na avaliação do Copom, um ritmo de queda de 0,50 ponto continua sendo “apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”. No texto, o Copom não dá informações sobre o tamanho total do ciclo de queda dos juros.
Reação
Entre analistas, ganhou destaque a referência às metas fiscais. “Pode ser lida como o comentário fiscal mais duro perante as dificuldades do governo em conseguir mais receita”, afirmou, por exemplo, o economista da ASA Investments Leonardo Costa. Já a consultoria britânica Capital chamou a atenção para a avaliação de que dificilmente o Copom vai acelerar o ritmo de corte dos juros.
“Tem havido algumas expectativas (parcialmente precificadas nos mercados) de que o Copom possa mudar para cortes maiores do que 50 pontos-base (0,5 ponto porcentual). Não há nada nesta declaração (o comunicado) que sugira que isso esteja previsto” escreveu o economista-chefe para mercados emergentes da Capital Economics, William Jackson. (O Estado de S. Paulo/Thaís Barcellos e Eduardo Rodrigues)