O Estado de S. Paulo
O Ministério da Fazenda elevou ontem a projeção de alta do Produto Interno Bruto (PIB) em 2023. De acordo com a grade de parâmetros divulgada ontem pela Secretaria de Política Econômica (SPE), a estimativa para o crescimento econômico neste ano passou de 2,5% para 3,2%, um pouco acima das projeções do mercado.
No último relatório semanal Focus, também divulgado ontem, analistas de mercado consultados pelo Banco Central projetaram uma alta de 2,89% para o PIB neste ano – na semana passada, era 2,64%. Para 2024, a estimativa é de alta de 1,50%. As projeções de mercado para os anos de 2025 e 2026 estão em 1,95% e 2%, respectivamente.
A subsecretária de política macroeconômica do Ministério da Fazenda, Raquel Nadal, disse que a projeção da SPE é “otimista”, e que a pasta não prevê estagnação nos próximos trimestres, ainda que o crescimento ocorra em um ritmo menor.
“O crescimento de 3,2% é uma estimativa otimista. A gente não está prevendo estagnação da atividade nos próximos trimestres. Estamos esperando nova aceleração do ritmo de crescimento do quarto trimestre, após essa desaceleração do terceiro trimestre”, disse em entrevista coletiva.
Já para 2024, a Fazenda manteve a expectativa de crescimento em 2,3% – mesmo patamar usado para a elaboração do Orçamento do próximo ano. De acordo com o Boletim Macrofiscal atualizado, o aumento da projeção para a economia neste ano reflete principalmente o resultado do PIB no segundo trimestre, que cresceu 0,9% na comparação trimestral e 3,4% em relação ao mesmo período do ano anterior.
A SPE diz ainda que, além da surpresa com esse avanço da economia, também contribuíram para elevar a estimativa de crescimento no ano o aumento na safra projetada para 2023, resultados positivos observados para alguns indicadores antecedentes no terceiro trimestre e expectativas de recuperação da economia chinesa para o último trimestre do ano.
Segundo a secretaria, as projeções de crescimento melhoraram para todos os setores. No caso do agropecuário, a projeção foi revisada de 13,2% para 14%. Para a indústria, o crescimento esperado avançou de 0,8% para 1,5%, enquanto a projeção para serviços cresceu de 1,7% para 2,5%.
Com esses resultados, o ritmo de crescimento da economia brasileira em 2023 deve superar o observado em 2022, destacou a SPE, “apesar da política monetária contracionista e do alto comprometimento de renda das famílias com pagamento de dívidas”.
A Fazenda apontou que o crescimento em 2023 se deve, sobretudo, ao desempenho do setor agropecuário, mas também é decorrente dos programas de transferência de renda, de inclusão social, de apoio à renegociação de dívidas e de estímulo ao investimento produtivo “que vêm sendo implementados desde o início do ano”.
Revisão
Sobre a alta do PIB, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, diz que, embora esperada, a revisão é “bastante positiva” em relação à forma como está sendo acompanhada pelo mercado. “As projeções de crescimento do PIB para este ano que vemos no boletim Focus tem sistematicamente se aproximado da SPE, e o mesmo a gente pode dizer para a inflação, em particular o IPCA”, disse o secretário.
Mello também afirma para a “importância” da queda da curva de juros, em particular para as decisões de investimento, que ainda está num patamar deprimido. “Certamente ganha novo ânimo, com impulso do patamar de juros, principalmente de longo prazo, mais amigável para a decisão de investir”, afirma.
Assim como para 2024, as projeções da SPE sobre a variação do PIB foram mantidas em 2025 (2,8%), em 2026 (2,5%), e em 2027 (2,6%). “Para os anos seguintes, o crescimento deve se situar próximo a 2,5%. As ações de política econômica têm como foco aumentar a taxa de crescimento do País, com responsabilidade ambiental, social e fiscal”, diz a SPE. “As reformas fiscal, tributária e financeira devem funcionar como bases para possibilitar o aumento da produtividade, a redução estrutural dos juros e o maior potencial de crescimento. Em paralelo, as políticas de estímulo ao investimento, de redução da desigualdade e de transformação ecológica deverão garantir que o crescimento ocorra com inclusão social e sustentabilidade.”
Próximos anos
Já sobre a economia para o próximo ano, a SPE afirma ainda que tanto a indústria quanto o setor de serviços devem se beneficiar com a queda de juros, com as políticas de apoio à renegociação de dívidas e de transferência de renda e com os programas de incentivo ao investimento.
O retorno dos gastos mínimos com educação e saúde também deve impulsionar o componente da administração pública, destacou a secretaria, ressaltando que, pelo lado da demanda, essas políticas e programas devem impactar positivamente o consumo das famílias e a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF). (O Estado de S. Paulo/Fernanda Trisotto e Amanda Pupo)