Mercado vê recuperação da Bolsa com a perspectiva de novo corte da Selic

O Estado de S. Paulo

 

Agosto trouxe um banho de água fria para os investidores. Contrariando os prognósticos positivos para um período que se iniciava com o tão esperado corte na Selic, o Ibovespa amargou uma queda de 5,09% no mês. O desempenho negativo refletiu a deterioração dos fatores que vinham impulsionando a alta no mercado brasileiro desde abril. Para setembro, a notícia ruim é que boa parte deles continua no radar. A parte boa é que os especialistas seguem otimistas com os investimentos por aqui.

 

A queda em agosto aconteceu em meio à uma piora do humor nos mercados internacionais, com dúvidas em relação ao crescimento da China e à trajetória do aperto monetário nos Estados Unidos. Isso minou o apetite de investidores globais por mercados emergentes, resultando na saída de R$ 9,7 bilhões em capital estrangeiro da B3 até o dia 29.

 

Para setembro, ambos os fatores permanecem no radar, com destaque para a reunião em que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) vai decidir se aumenta ou não a taxa de juros do país. O encontro acontecerá no dia 20, a “super quarta” – que, aqui no Brasil, também deve trazer mais um ajuste para baixo na Selic.

 

E é este motivo, a nova queda dos juros por aqui, que mantém os analistas otimistas com a trajetória do mercado no Brasil – ainda que a pressão externa continue, a perspectiva de queda dos juros na economia local deve servir como contrapeso para manter o mercado ligeiramente positivo.

 

A grande aposta dos analistas para setembro fica com a Bolsa brasileira. Mesmo após as quedas de agosto e ainda que fatores de incerteza persistam, a perspectiva de continuidade nos cortes da Selic deve servir de gatilho positivo para o mercado. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reúne-se nos próximos dias 19 e 20 e deve anunciar uma nova queda de 0,5 ponto porcentual, levando a Selic a 12,75% ao ano.

 

“Estamos apenas no início da trajetória de queda de juros”, destaca Ricardo França, analista da Ágora Investimentos. “Nesse cenário, é muito difícil apostar contra a renda variável por mais que ainda haja um clima de cautela, tanto interna, com a questão fiscal, quanto externa, com os EUA.”

 

Valuation

 

Um dos principais argumentos para que os analistas continuem a ver potencial na Bolsa é que, em termos de múltiplos, o Ibovespa segue abaixo da média histórica. Atualmente, o índice negocia a 8 vezes o preço sobre o lucro (P/L), contra uma média de 11 vezes P/L – um desconto relevante e que pode servir como catalisador para a volta do fluxo estrangeiro ao País, avalia Jennie Li, estrategista de ações da XP.

 

“Não vejo a saída que aconteceu em agosto como um movimento estrutural, mas um movimento pontual ligado à aversão a risco. O Brasil continua com um valuation (valor de ativos) bastante descontado, fator que deve manter o investidor internacional olhando para cá”, explica Li.

 

Também com uma visão positiva para a renda variável, a XP entende que pode ser um bom momento para aumentar o grau de risco das carteiras, incluindo empresas mais sensíveis a juros e menos alavancadas.

 

“Não me parece ser um cenário de bull market, de altas generalizadas na Bolsa, mas, sim, é um cenário para fazer escolhas criteriosas para montar um portfólio de longo prazo”, concorda França, da Ágora.

 

A preferência da corretora para o momento são as small caps (companhias consideradas pequenas quando comparadas com as demais empresas na Bolsa), que, nesse ponto inicial do ciclo de queda de juros, tendem a ter performance melhor do que os pares.

 

Outras opções

 

Ainda que as perspectivas para a Bolsa brasileira sejam positivas, especialistas explicam que não dá para cravar que a volta das valorizações expressivas acontecerá em setembro. É por causa dessa cautela que a maior posição dos portfólios da Principal Claritas permance na renda fixa. São as NTNB-s e o Tesouro IPCA+ “as maiores convicções da carteira”, diz Rodrigo Cabraitz, gestor de portfólio.

 

Para setembro, a Principal Claritas mantém a posição comprada em Bolsa, tanto em setores mais defensivos, como utilities (companhias que oferecem serviços essenciais, como energia elétrica) e saneamento, quanto naqueles que devem se beneficiar do ciclo de cortes na Selic, como transporte e locadoras de veículos.

 

Mas são as posições indexadas à inflação que Cabraitz considera o diferencial no momento. “Ao longo do tempo, aumentamos o horizonte de vencimento das NTNB-s, uma posição que tem pago na parte intermediária da curva IPCA + 5,4%. Continuamos a achar uma posição atrativa e que nos protege no caso de algum outro choque externo que não estamos vendo”. (O Estado de S. Paulo/Luíza Lanza)