“Fábricas da BYD elevam patamar da eletromobidade no Brasil”

O Estado de S. Paulo/Mobilidade

 

No começo de julho, a BYD Brasil fez um anúncio que poderá ser o divisor de águas da eletromobilidade no País. Ela construirá três fábricas para a produção de automóveis eletrificados, caminhões e ônibus elétricos e baterias no município de Camaçari (BA). O investimento de R$ 3 bilhões deverá gerar 5 mil empregos diretos e indiretos.

 

Segundo Henrique Antunes, diretor de vendas da BYD Brasil, as unidades serão instaladas no complexo que antes pertencia à Ford. “As operações devem começar entre o fim de 2024 e o primeiro semestre de 2025”, revela Antunes.

 

Para o executivo, o pioneirismo da BYD de fabricar veículos eletrificados mudará o patamar da transição energética no Brasil e será um fator de encorajamento para outras montadoras seguirem o mesmo caminho. “A eletromobilidade vive uma curva ascendente no País e estamos empolgados com a perspectiva para os próximos anos”, diz Antunes, em entrevista ao Top Eletrificados.

 

Na sua opinião, o anúncio da BYD de construir três fábricas na Bahia muda o nível da eletromobilidade brasileira?

Não tenho dúvida de que esse movimento é um marco para o avanço da transição energética no País. O anúncio de fabricar veículos eletrificados e baterias na Bahia credibiliza o negócio a médio e longo prazos e encoraja outras montadoras que, daqui a dez anos, também estarão instaladas no Brasil para produzir automóveis.

 

Mas o que muda efetivamente com a fabricação de veículos elétricos no País?

A oferta de produtos com alta tecnologia deixa o consumidor ansioso e as concorrentes não aceitarão ficar de fora desse jogo. Será criado um círculo virtuoso em torno do carro elétrico. Quando surgiu o motor flex, todo mundo queria ter um automóvel com essa tecnologia, porque era uma novidade interessante. Agora, as pessoas querem saber mais sobre o motor híbrido e, no melhor dos mundos, já sonha saltar direto para o elétrico. Cada vez mais, esse mercado ganha maturidade. Naturalmente, o setor está sendo empurrado para esse momento e o segmento de elétricos vem ocupando espaço.

 

Por falar em motor flex, o senhor acha que, com o tempo, ele perderá espaço em favor do sistema elétrico?

Motores elétricos e etanol são tecnologias que se complementam, andam juntas. A questão não é etanol ou elétrico, mas sim etanol e elétrico. Por que um deve excluir o outro? Cabe a cada fabricante apostar naquilo que faz mais sentido para ela. O Brasil investe em etanol há quase 50 anos, e não podemos desconsiderar essa alternativa do dia para a noite.

 

Em julho, a BYD lançou o Dolphin com muita tecnologia e custando R$ 150 mil. Com a fabricação nacional, os preços tendem a cair?

Nosso exercício é o de sempre tentar baratear os preços, e fabricar automóveis e baterias localmente será uma grande oportunidade nesse sentido. Já temos uma linha de montagem de baterias para ônibus em Manaus (AM), mas as células vêm da China. Agora, tudo será feito aqui. É claro que os preços elevados ainda estão ligados à pequena demanda por carros elétricos no Brasil. Nossa intenção, porém, é fabricar automóveis com tecnologia e design com preços que caibam no poder de compra do consumidor. O Dolphin tem o valor semelhante ao de um hatch e SUV de porte semelhante com motor a combustão e que oferecem menos equipamentos. Algumas concessionárias formaram filas de espera para fazer. O Brasil é um dos dez mercados automotivos mais importantes do mundo, e, por isso, planejamos desenvolver muita coisa no País.

 

A rede de concessionárias está preparada para vender a linha de produtos em crescimento da BYD?

O maior inimigo de uma concessionária é o tempo de construção da loja. Hoje, temos 25 concessionárias completas e mais 40 grupos nomeados e que já estão construindo suas estruturas. Possuímos, também, pontos de venda em shopping centers, que é um conceito novo muito comum na China e nos Estados Unidos. Até o fim deste ano, teremos 100 concessionárias em atividade. Todas estarão bem organizadas e treinadas, e logo receberão mais novidades: o Seal, que será lançado em breve, e um modelo híbrido, em 2024.

 

Quais são as perspectivas da BYD para a mobilidade elétrica no Brasil para os próximos anos?

Vivemos uma curva de crescimento impressionante, com oferta de produtos com preços comparados aos de automóveis dotados de motor a combustão – e o consumidor quer isso. Penso que, em 2024, a aceleração será maior, com os desafios de aumentar os volumes de carros eletrificados disponíveis e reduzir os custos. Em breve, o comprador vai desejar um veículo 100% elétrico. Com esse cenário em mente, a BYD está se preparando para ter um line-up robusto, visando os próximos 10, 15 anos. (O Estado de S. Paulo/Mobilidade)