O Estado de S. Paulo/Mobilidade
O transporte público por ônibus, no Brasil, vem perdendo passageiros a cada ano, realidade que se intensificou no período da pandemia de covid-19. Desde 2019 o segmento de ônibus urbano registrou queda de quase 25% na demanda, com perda de 8 milhões de deslocamentos de pessoas por dia, de acordo com o Anuário 20222023, da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU).
A corrida para atrair passageiros para o sistema encontra diversos desafios, como mudanças nos hábitos pós-crise sanitária, concorrência com aplicativos de mobilidade individual e insatisfação com os serviços oferecidos pelo transporte público de maneira geral, em especial com o preço da passagem, entre outros.
“A recuperação desse setor passa, obrigatoriamente, por oferecer aos consumidores informações e facilidades para que tenham controle dos seus deslocamentos”, diz Sergio Avelleda, sócio-fundador da Urucuia Inteligência em Mobilidade Urbana.
Ele explica que, embora, hoje, pareça normal, o nível de informação proporcionado pelo transporte individual por aplicativo elevou o padrão dos deslocamentos de maneira geral.
“As pessoas se acostumaram com a previsibilidade; elas sabem a hora que o transporte vai chegar, o tempo de percurso, quanto vão pagar, a rota e, inclusive, já pagam direto pelo aplicativo. E a população quer ter isso, também, no transporte público”, afirma Avelleda.
Simplificar a jornada
Oferecer melhor controle do tempo, facilidades no pagamento e um serviço de qualidade passa pela modernização do transporte por ônibus, um movimento que já começou.
Um exemplo é a adoção do Cartão TOP, desde novembro de 2021, na região metropolitana de São Paulo, quando a ferramenta passou a conectar passageiros que utilizam ônibus intermunicipais e transporte sobre trilhos na cidade, com desconto na integração.
Atualmente, já são mais de 370 milhões de bilhetes QR Codes vendidos e 2,4 milhões de cadastros no aplicativo, o que representa, de acordo com a empresa responsável, 30% do transporte da capital paulista.
Trata-se de um sistema de bilhetagem eletrônica usado para pagamento das viagens mediante a compra de bilhetes QR Code, com o mesmo cartão válido no Metrô, CPTM e ônibus da EMTU, mas que pode ir muito além.
“Um exemplo é que, hoje, o passageiro pode ter, no Cartão TOP, caso possua interesse, funcionalidades de transporte e serviços financeiros”, diz Rodney Freitas, CEO da Autopass, responsável pelo cartão.
Ele explica que os usuários maiores de 18 anos podem criar uma conta digital e usar o cartão nas funções débito ou crédito, com todo o controle feito via aplicativo.
“A ideia é simplificar a jornada dos passageiros e usuários da plataforma, que podem acessar ou ter mais informações desses serviços ao longo do dia – inclusive no tempo que despendem no transporte coletivo, que costuma ser, em média, de 1h52m, em São Paulo –, além de comprarem bilhetes pelo WhatsApp, um recurso pioneiro”, diz Freitas.
Biometria facial
Além da bilhetagem eletrônica, já adotada por 91,4% das empresas da região metropolitana de São Paulo, segundo pesquisa recente feita pela NTU e pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), diversas “tecnologias do futuro” já são realidade em muitos veículos.
Uma delas é a biometria facial, usada para controle do uso de benefícios no transporte e que já funciona em muitos ônibus brasileiros. De acordo com estudo feito pela NTU, as gratuidades no transporte equivalem, em média, a 21,7% da receita total do segmento, número expressivo e que precisa ser controlado para uma correta gestão da operação.
“A funcionalidade utiliza a tecnologia de biometria facial para a realização do controle do uso de benefício, a fim de fornecer um transporte coerente com a necessidade do município, reduzindo custos com a atenuação da fraude”, explica Andrea Trede, gerente de produtos da Empresa 1, companhia que atua, há 26 anos, no Brasil e foi responsável por implementar, em 1997, um cartão eletrônico pioneiro para pagamento eletrônico da passagem.
Além desse aspecto, uma possibilidade para o futuro é que os dados armazenados na face dos usuários gerem informações, como padrões de deslocamento, que possam ajudar no dimensionamento das frotas, entre outros aspectos.
O uso de câmera de segurança é outro bom exemplo, pois evita assédio, furto, assalto e até má conduta dos motoristas. “Estrategicamente posicionadas, além de atuarem como inibidoras dos crimes, as câmeras agem como controladores de ações e comportamentos contra a lei, incluindo fraudes e depredação dos veículos. São importantes recursos de segurança, pois inibem atitudes que poderiam causar acidentes de trânsito”, finaliza Andrea. (O Estado de S. Paulo/Mobilidade/Daniela Saragiotto)