Queda na taxa de juros vai baratear financiamento de caminhões

O Estado de S. Paulo/Mobilidade

 

Segundo especialistas do setor, redução de 0,5% na taxa Selic, aliada à boa perspectiva de alta no PIB, deve ajudar a impulsionar vendas de veículos pesados A taxa de juros alta é um dos principais entraves para o financiamento do pagamento de veículos, incluindo caminhões e ônibus. Conforme dados da B3, no primeiro semestre de 2023, o número de contratos para a venda de caminhões caiu 3,65%, na comparação ao mesmo período de 2022. Porém, o recente corte de 0,5% na taxa Selic animou o mercado.

 

A Selic é usada para reajustar também os contratos de financiamento. A redução foi anunciada na quarta-feira (2) pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central. Assim, há boas chances de os financiamentos feitos a partir de

agora ficarem mais baratos. Seja como for, mesmo com o corte, a taxa de juros no Brasil, de 13,25% ao ano, ainda é a mais alta do mundo. Em nota, a Fenabrave, que reúne as associações de concessionárias, informa que recebeu a novidade com otimismo.

 

Conforme José Maurício Andreta Júnior, presidente da entidade, é disso que o mercado precisa. “O consumidor necessita de queda nos juros e [facilidade de] aprovação de crédito. Se isso acontecer, as perspectivas melhoram”, diz o executivo.

 

Parcelas menores

 

Conforme os bancos das montadoras, a notícia é excelente. Segundo Paulo Noman, presidente da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef ), que representa essas empresas, principalmente porque há boas expectativas para o PIB. De acordo com ele, isso incentiva a realização de novos investimentos. “Com essa queda e a possibilidade de novas reduções nos próximos meses, o consumidor terá mais segurança para assumir financiamentos”, diz.

 

Na prática, a queda na Selic diminui os custos dos bancos na hora de emprestar dinheiro. Esse novo cenário pode baratear o valor dos financiamentos. Se a queda nos juros for repassada de forma integral, haverá redução no valor total do financiamento e, portanto, também das parcelas. “O consumidor sentirá essa queda a partir dos próximos meses”, afirma Noman.

 

FINAME e CDC

 

Segundo dados do mercado, a maior parte das vendas de caminhões e ônibus no Brasil é feita a prazo. De acordo com dados do BC compilados pela Anef, 39% dos contratos de financiamento realizados no primeiro trimestre de 2023 utilizam o Finame, do BNDES.

 

Por sua vez, o crédito direto ao consumidor (CDC) representou 31% do total. Assim, o restante das compras foi feito à vista (24%) e via consórcio (6%). Esta última não está diretamente atrelada a juros.

 

Conforme o presidente da Anef, a redução nas taxas também deve trazer mais confiança aos investidores, inclusive de outros setores. Assim, isso deve ajudar a estimular a venda de novos equipamentos, e, com isso, o caminhão vem a reboque.

 

Preços altos

 

Antônio Jorge Martins, coordenador de cursos automotivos da FGV, porém, diz que o corte na taxa de juros sozinho não deve trazer aumento na procura de financiamentos para caminhões e ônibus.

 

Segundo ele, os preços dos caminhões novos subiram muito, principalmente, devido à adoção de novas tecnologias para atender às regras do Proconve P8.

 

O programa brasileiro de controle de emissões por veículos pesados é equivalente ao Euro 6. As novas regras, que entraram em vigor este ano, fizeram com que os preços subissem, em média, 30%. Assim, ele acredita que o consumidor está com dificuldade de fazer novos investimentos. (O Estado de S. Paulo/Mobilidade/Aline Feltrin)