O Estado de S. Paulo
Quem pensou que a última palavra da autonomia dos veículos eletrificados ficaria com o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) se enganou. Em janeiro passado, o órgão tomou a medida de reduzir, em média, 30% dos números divulgados pelas montadoras para ficarem mais próximos do uso real. Depois da decisão do Inmetro, porém, foi a vez da Associação Brasileira dos Proprietários de Veículos Elétricos e Inovadores (Abravei) entrar na discussão. Segundo a entidade, ninguém melhor do que o próprio usuário para saber, com mais exatidão, qual é a autonomia dos modelos disponíveis no mercado brasileiro, sem a frieza das análises de laboratórios. “Uma das missões da Abravei é justamente esta: oferecer, para quem dirige carro eletrificado no dia a dia, a informação mais precisa possível sobre o quanto ele é capaz de rodar com carga completa da bateria”, afirma o presidente Rogério Markiewicz. Logo após o anúncio do Inmetro, a Abravei – que reúne cerca de 200 associados – teve a ideia de criar uma plataforma batizada de Autonomia de Veículos Elétricos com Base na Experiência do Usuário (Avex). Markiewicz explica que a proposta da Avex é a de ser uma ferramenta colaborativa, na qual todos os usuários podem inserir os dados de autonomia de seus carros.
Instrumento útil
“Os índices dos ciclos adotados pelos mercados europeu, chinês e americano são otimistas demais. Levam em conta velocidade baixa, ar-condicionado desligado e outras variantes”, diz o presidente da Abravei. “Concordamos com a iniciativa do Inmetro, mas nos sentimos estimulados a propiciar um instrumento útil aos motoristas.”
Para ele, a função da Avex é dar uma referência de autonomia equilibrada, ou seja, prevenir o consumidor de que ele não deve esperar um número irreal e, por outro lado, mostrar que as autonomias não são tão pequenas – crença que, por vezes, faz o interessado desistir da compra. Depois de dirigir o carro elétrico ou híbrido plug-in por, ao menos, 100 quilômetros, o motorista tem a possibilidade de entrar no site (www.avex.eco.br) e adicionar dados pessoais, nome do modelo e informações a respeito da sua experiência. A autonomia alcançada considera aspectos como topografia, condições climáticas e do trânsito, quantas pessoas no carro e se o ar-condicionado estava ligado ou não. Também é solicitado que o motorista mande uma foto do painel para validar os dados enviados e evitar informações falsas. “É uma maneira de impedir o acesso de aventureiros”, revela.
Número descartado
Antes da publicação, os índices passam pelo crivo de quatro diretores da Abravei e de mais um sócio convidado, a fim de impedir distorções. Nesse filtro, números muito fora da realidade são vistos com ressalvas e, se for o caso, acabam descartados. “Sempre pedimos a opinião de algum sócio que seja proprietário do automóvel avaliado, pois ele tem conhecimento de causa daquele veículo específico”, destaca. “Já recebemos dados muito diferentes do mesmo carro. A comparação é importante para chegar ao número mais coerente possível.” Um exemplo de informação devidamente desprezada foi o de 700 quilômetros de autonomia do Chevrolet Bolt. “Essa autonomia não faz sentido, e nossa posição foi endossada por um grupo sobre o Bolt, composto por 52 integrantes”, ressalta.
Com um pouco mais de um mês no ar, o Avex tem, até agora, 11 modelos avaliados, contendo as autonomias mínima e máxima aferidas pelos usuários (veja quadro abaixo). “A participação vem aumentando, e a expectativa é oferecer ao público a autonomia de todos os veículos eletrificados vendidos no País”, acentua Markiewicz.
Apoio ao usuário
Ele conta que algumas fabricantes entraram em contato com a Abravei para entender o movimento de criação da Avex. “A postura delas é de surpresa com nossa ação e de aprovação com os resultados divulgados”, completa. Para o presidente, a autonomia é uma barreira mais psicológica do que prática para o consumidor desistir da compra do veículo elétrico. “É normal que a cisma exista em razão da infraestrutura de recarga pequena do Brasil. No entanto, o principal ponto que afugenta a compra são os preços, que, por sinal, estão caindo”, relata. Fundada em 2017, a Abravei pretende prestar mais serviços de apoio ao cliente, além de apontar a autonomia do carro eletrificado. Um deles é executar ações que aproximem a eletromobilidade da sociedade e de toda a parte urbanística das cidades. “Um dos nossos maiores orgulhos foi ver que um dos pontos do Plano Diretor de São Paulo é estimular a instalação de estações de recarga em vias públicas. Esse artigo tem inspiração no Código de Obras de Brasília, de 2018, que estabelecia a implantação de eletropostos em estabelecimentos comerciais, uma reivindicação da Abravei”, conclui.
“Uma das missoes da Abravei é oferencer para quem dirige carro eletrificado no dia a dia a informação mais precisa possivel sobre o quanto ele é capaz de rodar com carga completa da bateria”. (O Estado de S. Paulo/Mário Sérgio Venditti)