Assinatura de automóveis deixa de ser “nicho” e entra em processo de maturação

O Estado de S. Paulo/Mobilidade

 

A assinatura de automóveis é uma modalidade que tende, cada vez mais, a se consolidar no País, após um período em que era considerada apenas um “nicho” de mercado. A avaliação é do especialista Murilo Briganti, da Bright Consulting. De acordo com ele, até pouco tempo atrás, a modalidade ainda era vista como “uma novidade” e um nicho no Brasil. “Nos últimos dois anos, por causa da pandemia, ouviu-se falar mais dessa opção, mas ainda de forma restrita. Afinal, ainda é pequena a parcela economicamente ativa que se sente confortável em pagar sem possuir”, diz o especialista.

 

Agora, ele já vislumbra um cenário mais claro para esse tipo de negócio, que tende a substituir a compra do automóvel. “É uma tendência que veio para ficar, mas ainda está no seu processo de maturação”, analisa. “Com certeza, o sentimento de posse não irá mais fazer sentido no futuro”, garante.

 

Para Briganti, como tudo o que é novo, a modalidade de carro por assinatura ainda “precisa provar sua funcionalidade e eficácia. À medida que a burocracia diminuir, tivermos novos entrantes, maior oferta com menor preço e menos ‘letras miúdas’ nos contratos, certamente o consumidor passará a fazer os cálculos e, muitas vezes, a assinatura fará sentido”, afirma. Embora tenha adotado a modalidade e veja vantagens no sistema, o consultor também destaca pontos que, a seu ver, precisam ser aperfeiçoados.

 

Um dos pontos que ele critica é o fato de que, em caso de acidente, quem paga a franquia é o cliente, mas quem recebe o valor da indenização do seguro é a empresa. Segundo ele, há contratos que preveem franquias em torno de 7% da Fipe, valor considerado alto pelo consultor. “Eu mesmo passei por isso. Não atentei a esse detalhe no contrato, e acho que 90% dos clientes também não prestam atenção às letras miúdas. Na renovação do meu contrato, hoje, está previsto5% de franquia.”

 

O especialista também lembra que, na assinatura, o usuário tem restrições quanto à quilometragem. Os planos preveem franquias: paga-se mais para rodar mais. Caso o cliente faça um contrato que prevê 1.000 km por mês e exceda a meta no ajuste anual, por exemplo, ele deverá pagar um adicional.

 

Embora a assinatura de veículos já atenda a uma grande parcela de usuários, Briganti afirma que a modalidade ainda não é indicada a todas as pessoas. De acordo com sua análise, diversos fatores desempenham papel fundamental na hora da decisão, entre os quais a parcela de capital que o cliente possui para adquirir o bem, a taxa de financiamento praticada na época, a disponibilidade do veículo na modalidade e o tipo de uso.

 

“Match” perfeito

 

O especialista define três perfis básicos como os mais propensos a experimentar a opção: integrantes da chamada geração Z (pessoas nascidas entre 1990 e 2010, já sob uma era “digital”) e consumidores das classes média e alta.

 

Segundo Briganti, pessoas da geração Z não veem o automóvel como um bem indispensável, mas sim um meio de transporte. Dessa forma, são adeptos à assinatura de serviços. Ter a vanguarda das tecnologias e estar no controle da situação são as principais características desse grupo.

 

Quanto à classe média, Briganti diz que a razão está na perda de poder de compra dessa parcela da sociedade, nos últimos anos, tanto por causa da inflação e das altas taxas de financiamento quanto pelo aumento no preço dos automóveis. “À medida que a parcela financiada do veículo aumenta sob juros exorbitantes, o consumidor começa a fazer as contas e a assinatura pode fazer sentido”, diz.

 

O último grupo, formado por pessoas da classe alta, busca maior comodidade e gosta de estar sempre atualizado em termos de lançamentos e tecnologias. “Nesse caso, a assinatura é o ‘match’ perfeito, pois o cliente não se preocupa com revisão, depreciação, seguro, IPVA… E ainda troca de veículo a cada 12, 24, 36 meses, por outro mais novo e mais tecnológico.”

 

Motivadas pela aceitação crescente da modalidade, além das locadoras, diversas fabricantes de veículos adotaram a assinatura. “Aquela história de que o único vínculo que a montadora tinha com o cliente era a comercialização do automóvel já não existe. Cada vez mais, veremos mais ofertas de serviços”, afirma Briganti. “No entanto, muitos players, inclusive montadoras, ainda estão estudando como se adaptar a essa nova realidade”, diz, em referência a marcas que ainda não adotaram esse modelo de negócios. “Neste momento, as empresas ainda estão ‘medindo a temperatura do consumidor’ para saber quanto ele está disposto a pagar a mais ou a menos para deixar de ter a posse”. (O Estado de S. Paulo/Mobilidade/Hairton Ponciano Voz)