O Estado de S. Paulo
A queda da inflação em ritmo mais rápido do que o previsto nos últimos meses fortaleceu no mercado a avaliação de que há chance de o IPCA ficar abaixo do teto da meta ainda neste ano (de 4,75%), interrompendo uma sequência de descumprimento do alvo quem vem desde 2021. Embora esse ainda não seja o cenário-base da maioria das instituições, economistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast afirmam que a possibilidade de sucesso no controle de preços entrou no radar do mercado.
O centro da meta de inflação que o Banco Central precisa alcançar neste ano é de 3,25%, mas há um intervalo de tolerância de 1,5 ponto porcentual para cima ou para baixo – o que levaria o teto ao máximo de 4,75%. A expectativa do mercado é de que o IBGE divulgue hoje variação negativa (desinflação) para o IPCA de junho, depois de a prévia no mês ter ficado em 0,04%.
Na semana passada, UBS BB e XP Investimentos revisaram seus cenários e passaram a prever inflação abaixo do teto da meta neste ano, reduzindo a projeção de alta do IPCA de 4,9% para 4,7% em ambos os casos. Os economistas das duas casas citaram, em relatórios, a desinflação de bens e a redução dos preços de combustíveis pela Petrobras como fatores que influenciaram as mudanças.
“A Petrobras anunciou um corte de 5,6% na gasolina e de 3,9% no GLP aos distribuidores no dia 30 de junho, o que causa, na nossa visão, um efeito permanente (negativo) de 0,14 ponto porcentual na inflação deste ano”, explicou o economista da XP Alexandre Maluf, citando também a expectativa de deflação de automóveis com a prorrogação do programa de descontos em carros patrocinado pelo governo federal.
“Factível”
Outros analistas conservam a expectativa de IPCA acima do teto da meta em 2023, mas reconhecem que uma taxa abaixo de 4,75% está no radar. O estrategista-chefe da Constância Investimentos, Alexandre Lohmann, espera inflação de 4,80% neste ano – já considerando deflações nas leituras de junho (-0,14%) e julho (-0,11%) – e afirma que o cumprimento da meta pelo BC neste ano não está fora da mesa.
“Estamos avaliando, mas é muito factível termos o IPCA dentro do teto já que, entre a minha previsão e o teto, não tem quase nada”, diz Lohmann. “Houve uma queda muito importante de alimentação e um corte recente da gasolina que puxaram para baixo a inflação corrente.”
Mesmo assim, o economista alerta que a esperada sequência de deflações em junho e julho pode levar a uma correção excessiva das estimativas do mercado para baixo, devido à desaceleração do IPCA acumulado em 12 meses. (O Estado de S. Paulo/Cícero Cotrim e Marianna Gualter)