IBGE: produção industrial volta a ficar no azul em maio e cresce 0,3% em relação a abril

O Estado de S. Paulo Online

 

A indústria brasileira voltou ao azul em maio, dando sequência a uma trajetória vacilante ao longo de 2023. A produção subiu 0,3% em relação a abril, após uma perda de 0,6% vista no mês anterior, segundo os dados da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física, divulgados nesta última terça-feira, 4, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

“Vimos concentração do crescimento em indústria extrativa, enquanto a indústria de transformação, que é mais cíclica, caiu”, apontou o economista Gabriel Couto, do Banco Santander Brasil. “Vemos uma fraqueza maior do setor nos próximos meses porque ainda estamos lidando com condições financeiras restritivas”, previu.

 

Em maio ante abril, houve expansão de 1,2% na indústria extrativa, ao passo que a indústria de transformação registrou ligeira queda de 0,1%, calculou a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). A entidade projeta que a indústria toda tenha uma retração de 0,5% na produção em 2023, “tendo como uma das principais causas o alto patamar da taxa de juros”.

 

Na passagem de abril para maio, houve expansão em 19 dos 25 ramos pesquisados, maior espalhamento de crescimento desde setembro de 2020, quando o setor se recuperava do choque inicial provocado pela pandemia de covid-19.

 

“Claro que é um resultado positivo muito próximo da estabilidade, não elimina a perda do mês anterior. Mas esse espalhamento de alta entre as atividades é positivo e não se observava há muito tempo”, avaliou André Macedo, gerente da pesquisa do IBGE. “Mais que o resultado positivo em si, o fato de o resultado ter sido mais disseminado traz algum tipo de alento para a produção industrial”, opinou.

 

Na série com ajuste sazonal, a produção industrial coleciona altos e baixos ao longo de 2023: janeiro (-0,3% ante o mês anterior); fevereiro (-0,2%), março (1,1%), abril (-0,6%) e maio (0,3%).

 

“O setor industrial tem um saldo positivo de 0,4% ante o patamar que encerrou o ano passado”, lembrou Macedo.

 

Mesmo com a melhora no ritmo da produção no mês de maio, o setor industrial operava 1,5% abaixo do patamar de fevereiro de 2020, no pré-pandemia, além de 18,1% aquém do nível recorde alcançado em maio de 2011.

 

“Tem um espaço importante a ser recuperado”, resumiu Macedo. “A gente vem operando entre o patamar de janeiro e fevereiro de 2009 já há bastante tempo, o setor industrial não consegue sair desse patamar.”

 

Macedo concorda que a taxa de juros elevada tem implicações negativas, afetando tanto o endividamento quanto a inadimplência das famílias. A melhora no mercado de trabalho tende a ajudar a demanda doméstica, mas ainda há altos índices de informalidade entre os ocupados, e o desemprego permanece elevado. Por outro lado, a inflação mais controlada “pode significar alguma melhora para o consumo das famílias”, mencionou.

 

Na passagem de abril para maio, as atividades de maior influência positiva foram derivados do petróleo e biocombustíveis (7,7%), veículos automotores (7,4%) e máquinas e equipamentos (12,3%). Os derivados de petróleo completam quatro meses seguidos de expansão na produção, período em que acumularam ganho de 15,0%. Já os veículos voltaram a crescer após uma perda acumulada de 2,6% nos meses de abril e março. A atividade de máquinas e equipamentos eliminou parte do recuo de 11,7% registrado no mês anterior.

 

De acordo com Macedo, a produção de veículos cresceu em maio com a volta da produção após paralisações e férias coletivas ocorridas no mês anterior, mas também uma preparação das montadoras para a demanda futura estimulada pelo pacote que seria anunciado pelo governo para desconto na aquisição de carros populares.

 

Outras contribuições positivas relevantes para a média da indústria foram as das indústrias extrativas (1,2%), produtos de metal (6,1%), outros equipamentos de transporte (10,2%), metalurgia (2,1%), produtos diversos (6,6%) e couro, artigos para viagem e calçados (4,9%)

 

Na direção oposta, entre as seis atividades em queda, os principais impactos negativos partiram de produtos alimentícios (-2,6%) e farmacêuticos (-9,7%). Alimentícios registraram o quinto mês seguido de queda na produção, com perda acumulada de 9,7% no período.

 

“Esses dois segmentos têm pressão significativa importante para o total industrial”, confirmou Macedo. “Alimentícios e farmacêuticos, podemos dizer que, assim, impediram um avanço maior nesse setor industrial”. (O Estado de S. Paulo Online/Daniela Amorim e Marianna Gualter)