“Não é preciso subsídio ao produtor, mas ao consumidor”

O Estado de S. Paulo 

 

Prestes a confirmar a compra da antiga fábrica da Ford na Bahia, a montadora chinesa BYD quer trazer para o País um ecossistema voltado à eletrificação, e não apenas a produção de veículos híbridos e elétricos. A vice-presidente global da BYD, Stella Li, afirma que o valor a ser investido no mercado brasileiro vai depender de medidas a serem adotadas pelos governos locais para incentivar o consumo de modelos a bateria. “Não é preciso dar subsídios ao produtor, mas ao consumidor”, diz. Além da compra da antiga Ford, Stella Li está no Brasil para participar, hoje, do lançamento de um novo carro da marca, o Dolphin, por enquanto importado. O modelo é hatch médio que deve custar menos de R$ 200 mil.

 

A seguir, os principais trechos da entrevista:

 

Por que a BYD decidiu produzir automóveis elétricos no Brasil?

A BYD atualmente é a maior fabricante global de carros verdes. Foi a primeira empresa automobilística a interromper, em março de 2022, a produção de veículos a combustão, e passamos a produzir apenas elétricos e híbridos plug-in. Não há chances de o carro a combustão continuar. Nós amamos o Brasil. É um país amigo do meio ambiente e tem uma grande indústria automotiva. Somos um provedor de soluções tecnológicas para o meio ambiente e queremos trazer todo um ecossistema para o mercado brasileiro.

 

O que é preciso fazer para ampliar mais rapidamente o mercado local de elétricos?

Acho que o governo realmente tem de dar incentivos de forma agressiva para apoiar e fazer esse mercado crescer. Todos os países estão se movendo para atingir participação de 10%, 12%, 20% de elétricos nas vendas totais. Portanto, esperamos que o governo brasileiro possa implementar algumas políticas fortes para impulsionar a indústria, pois, assim, o mercado passaria rapidamente para 20%, 30% de eletrificação.

 

Que tipo de incentivo seria necessário?

Esperamos que o novo governo realmente se esforce para criar um plano de incentivo muito forte para subsidiar carros elétricos e torná-los mais acessíveis a todos. Não é preciso dar subsídios ao produtor, mas ao consumidor. Outros países também oferecem taxas de juros especiais para isso. É algo que o governo pode apoiar, em vez de dar dinheiro para subsidiar a gasolina.

 

Sem subsídios, o mercado não cresce?

Se não houver subsídio para carros elétricos, a taxa de adoção dessa tecnologia será lenta e isso deixará o Brasil muito atrás de outros países. A China, por exemplo, deu muito incentivo ao consumidor no início das vendas de elétricos. As vendas aumentaram e os incentivos começaram a diminuir. O governo também deu muitos incentivos para construir a infraestrutura e até instalou carregadores nas casas dos consumidores gratuitamente. Caso isso aconteça, empresas como a BYD e outras empresas, incluindo autopeças, terão interesse em investir aqui e trarão mais tecnologia. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)