Matriz elétrica renovável atrai estrangeiro para o Brasil

O Estado de S. Paulo

 

O Brasil tem sido o centro do interesse de países que têm dificuldade de cumprir as suas metas de descarbonização por ter uma robusta geração de energia renovável, base fundamental para a produção de hidrogênio verde, que é obtido a partir da eletrólise (processo que tira o hidrogênio da água).

 

Para isso, é necessário um grande volume de energia, o que não falta no Brasil, principalmente levando em conta projetos de eólicas offshore, que podem dobrar a geração de energia elétrica no País. Exemplo disso foi o recente anúncio do Comitê Europeu de investir R$ 10 bilhões em projetos brasileiros de hidrogênio verde.

 

“Os países veem necessidade do Brasil fazer parte disso, mas o País não se estrutura. A Europa tem o senso de urgência que ela precisa para se descarbonizar, e ela quer fazer esse plano de negociação no Brasil, mas vai fazer por meio de empresas privadas”, prevê Filipe Bonaldo, diretor da consultoria A&M Infra, ressaltando que a União Europeia está colocando “os ovos em várias cestas” se aproximando do Brasil e do Chile, mas deve começar com investimentos na África, que fica mais perto, e depois no sudeste asiático.

 

Para ele, o Brasil precisa correr para não ficar de fora do novo negócio, enquanto países como Chile e Austrália vêm se destacado por já terem um planejamento para desenvolver esse mercado, explica Bonaldo.

 

“Os países têm criado seus próprios planos de hidrogênio nacional, como o Chile e a Austália. São países que estão se posicionando para de fato trabalhar nessa exportação. Porém o Brasil não. O Brasil está vendo esse movimento acontecer e fazendo poucos movimentos para incentivar”, avalia o executivo.

 

Os Estados Unidos deram um grande passo recentemente, com o anúncio de financiamento de US$ 9,5 bilhões pelo Departamento de Energia para criar hubs de hidrogênio verde no país. “Lá eles colocaram uma vertente de incentivo a hidrogênio verde e já começa a desenvolver uma indústria. Não estão pensando apenas na commodity, mas no desenvolvimento de tudo que envolve a indústria do hidrogênio verde”, explica.

 

Esta semana, o governador do Piauí, Rafael Fonteles, anunciou em suas redes sociais que o Piauí terá R$ 50 bilhões em investimentos na produção de hidrogênio verde. Um dos acordos firmados foi com o grupo espanhol a Solatio Energia, que investirá R$ 30 bilhões em plantas industriais de produção de hidrogênio verde no Estado, segundo Fonteles. Outros Estados também têm anunciado interesse de iniciar a produção, mas sem detalhar projetos. Em Suape, as parcerias envolvem empresas como a francesa Qair, White Martins, Casa dos Ventos e Neoenergia.

 

Apesar de ter apenas um projeto entre os 20 maiores empreendimentos de grande escala, o Brasil ainda tem tempo de se estruturar, se houver incentivo governamental. Mas, de acordo com Bonaldo, um projeto de hidrogênio verde leva entre 4 a 5 anos para sair do papel. “Se demorar mais dois, três anos para se estruturar, quando a demanda mundial estiver em 90 milhões, daqui a sete anos, a gente vai ter apenas as cinco mil toneladas de Suape, nada representativo”, calcula.

 

Desafios

 

Apesar de ser a grande aposta do mundo, a produção em larga escala do produto terá de superar uma série de desafios. O uso intensivo da energia é um deles. Uma planta de eletrólise de 90 MW, por exemplo, produz 11.100 toneladas de hidrogênio. Essa questão da energia é um dos temas estudados por vários institutos. O objetivo é trabalhar em diferentes tipos de catalisadores capazes de reduzir o consumo de eletricidade no processo de separação do hidrogênio. A platina seria um bom material, mas é caro e escasso. Entre os produtos que têm apresentado boa performance estão ligas de níquel, sulfetos e fosfetos. (O Estado de S. Paulo/Denise Luna)