Mercado vê início do corte da Selic em agosto e taxa de12,25% no fim do ano

O Estado de S. Paulo

 

A expectativa do mercado financeiro é de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central mantenha a Selic em 13,75% ao ano – o que, se confirmado, será a sétima prorrogação seguida – na sua reunião que começa hoje e vai até amanhã. Mas economistas consultados pelo Estadão/Broadcast já esperam que o comunicado final do encontro traga sinalizações concretas sobre o início do ciclo de queda da taxa básica de juros. Para a maioria desses economistas, o corte deve começar em agosto.

 

“O modus operandi do Banco Central é fazer uma sinalização e, na reunião subsequente, levar a cabo. Esperamos que ele aja de acordo com essa característica”, diz a economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta, para quem as reduções da taxa devem começar em agosto, com um corte inicial de 0,25 ponto porcentual.

 

A posição de Argenta é a majoritária do mercado: de 46 instituições consultadas, 24 (52,2%) preveem para agosto o início do corte de juros. Outras 17 (37%) projetam cortes começando em setembro e só 2 (4,3%), em novembro. Apenas uma instituição vê uma redução do juro ainda na reunião desta semana, e outras duas preveem o início da queda da Selic em 2024. O relatório Focus divulgado ontem pelo BC vai na mesma direção: corte em agosto, um mês antes das projeções anteriores.

 

A Selic serve de referência para as demais taxas de juros no mercado, e seu peso pode ter influência, por exemplo, na decisão de empresários de colocar a mão no bolso ou engavetar projetos de novos investimentos. Não é por outra razão que existe forte pressão do governo para que o BC – que, por lei, tem autonomia de atuação – corte os juros, o que já rendeu duras críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Roberto Campos Neto, que comanda o BC.

 

Pelas projeções dos entrevistados, a mediana para o juro no fim de 2023 recuou de 12,5% para 12,25% – na prática, isso representaria um corte de até 1,5 ponto porcentual em relação aos 13,75% de hoje. Já a estimativa intermediária para o fim de 2024, que era antes de 10%, caiu para 9,75%.

 

Razões

 

O que sustenta a expectativa de mudança da política monetária é a rápida queda da inflação nos últimos meses – o IPCA de maio ficou em 0,23%, e as projeções do mercado apontam para a possibilidade de uma deflação neste mês – e a esperada aprovação no Congresso do novo arcabouço fiscal. O texto já passou pela Câmara, e deverá ser votado nesta semana no Senado – primeiro, na Comissão de Assuntos Econômicos e, depois, em plenário.

 

Ontem, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, falou em “prioridade absoluta do Senado”. Também a reforma tributária parece ter ganhado tração no Congresso, apesar da resistência de alguns setores.

 

Na avaliação de Carla Argenta, o tom do Copom no comunicado desta semana estará na mira do mercado. “Se o BC não fizer uma sinalização, o mercado deve reagir de forma bastante abrupta. Agora, se ele já trouxer uma magnitude estipulada, isso também traria uma surpresa para o mercado porque, embora a gente já tenha fatores que podem pavimentar o caminho para baixo no juro, é preciso uma sensibilidade grande na hora de conceber essa magnitude.” O que “está no preço hoje”, diz a economista, é um comunicado que sinalize o início dos cortes em agosto.

 

Já o economista-chefe da Kínitro Capital, Sávio Barbosa, disse esperar um tom mais moderado no comunicado. “Aquela frase de que ‘o BC não vai hesitar em retomar o ciclo de altas’ não deve ser repetida”, afirmou Barbosa. Ele também espera que haja redução nas projeções de IPCA do BC para 2023, de 5,8% “para algo mais próximo de 5%”. DÓLAR. Em reação às estimativas de queda da inflação no ano – pelo Focus, está agora em 5,12%, queda de 0,30 ponto porcentual em apenas uma semana –, o mercado financeiro teve ontem um dia mais tranquilo. O dólar fechou a R$ 4,77 (recuo de 0,92%), enquanto a Bolsa de Valores avançou 0,93% (para 119,8 mil pontos). (O Estado de S. Paulo/Daniel Tozzi Mendes, Marianna Gualter,Ítalo Bertão e Thaís Barcellos)