Jornal do Carro
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou nesta segunda-feira (5) os detalhes do pacote de incentivos para o carro popular. Após revisão pelo Ministério da Fazenda, o decreto concederá descontos em nota fiscal de R$ 2.000 até o valor de R$ 8.000. Dessa forma, o corte máximo no preço dos carros 0-km ficará próximo dos 11%. Entretanto, o decreto também vai impactar (e muito) nos modelos seminovos e usados.
A tendência é que o mercado de usados acompanhe os descontos nos veículos novos. No entanto, a redução pode ser ainda maior. “Por exemplo, se há uma redução de R$ 8.000 no carro de entrada, o usado ou seminovo pode chegar ou até ultrapassar os R$ 10 mil. Afinal, já tem uma depreciação por ser um modelo mais antigo”, acredita o diretor da ADK Automotive, Paulo Garbossa.
Vale lembrar, inclusive, que o governo reservou R$ 500 milhões do pacote para os automóveis. Assim, não é possível cravar o período de duração desses descontos. A estimativa, contudo, é de quatro meses. Além disso, em uma conta rápida, onde os modelos tenham o teto máximo de R$ 8.000, será possível emplacar cerca de 62.500 veículos na “promoção”. Já se utilizarmos como base o desconto mínimo de R$ 2 mil, o número sobe para 250 mil veículos.
Vale a pena comprar um usado ou seminovo?
Para Garbossa, o mercado vai ter que se acostumar aos novos preços. Assim, essa primeira semana após o anúncio será crucial. Afinal, as montadoras começam a divulgar os valores dos carros com as reduções, bem como os possíveis “bônus” extras em cima dos modelos 0-km. “Quem conseguir achar uma boa oferta em cima de um carro usado, pode apostar porque vai estar economizando dinheiro”, acredita o consultor da ADK Automotive.
No entanto, Garbossa menciona que é necessário fazer uma análise. “Tudo tem de ser feito com calma. O consumidor precisa entender o quanto está disposto a gastar e o quanto vai empenhar em dívida, por exemplo. Isso porque a taxa de juros está alta no financiamento, e esse quesito não sofreu nenhuma alteração. O mais vantajoso, claro, é o pagamento à vista”, completa.
Descontos vão bagunçar mercado de usados
Entretanto, como dissemos, além do pacote de incentivos, as marcas devem fazer promoções para seus carros. A primeira a anunciar a redução foi a Volkswagen, que confirmou bônus de até R$ 5 mil ou taxa zero aos clientes. Ou seja, somado ao valor mínimo de R$ 2 mil do pacote do carro popular, os modelos podem ganhar uma redução de, no mínimo, R$ 7 mil.
Por exemplo, com base na nova tabela de preços da VW, o Polo Track, modelo de entrada da marca, caiu de R$ 82.290 para R$ 74.990. Um desconto de R$ 7.300.
De acordo com Garbossa, com essas reduções é possível que ocorra uma paralização no mercado de usados. Afinal, ninguém quer perder dinheiro. A Renault, por exemplo, anunciou uma redução extra de R$ 2 mil no Kwid, atual carro mais barato do Brasil. Além disso, o modelo recebeu o corte de R$ 8 mil do pacote do governo. Dessa forma, o hatch subcompacto agora parte de R$ 58.990. Ou seja, um desconto de exatos R$ 10 mil no preço.
“Essa redução vai bagunçar totalmente o mercado de usados. A tendência é uma paralização durante esse período. Já que, se levarmos como base uma redução de R$ 10 mil, os preços dos usados vão estar muito desvalorizados. Ao contrário do cenário anterior”, finalizou. Assim, o mercado de carros usados iria em uma direção oposta em relação aos primeiros quatro meses do ano, onde registrou alta nas vendas com um total de 3.222.654 unidades negociadas. (Jornal do Carro/Jady Peroni)