O Estado de S. Paulo
Experiências de Bogotá e Santiago podem servir de inspiração para metrópoles brasileiras enfrentarem desafios de mobilidade urbana. As capitais sul-americanas, que já sofreram com problemas comuns à realidade brasileira, se destacam pela eficiência na administração de seus sistemas de transporte coletivo. O êxito é fruto de uma série de transformações, realizadas entre 2018 e 2019, como a adoção de ônibus movidos a eletricidade em suas frotas. No dia 31, ocorre o Summit Mobilidade 2023, com debates entre especialistas sobre os desafios atuais e visões de futuro sobre inovação e infraestrutura.
Dados mais recentes da plataforma E-BUS Radar, que monitora frotas de ônibus elétricos no transporte público de cidades latino-americanas, mostram que Bogotá e Santiago são as cidades com sistema de transporte público mais eletrificado da América Latina. Veículos desse tipo representam cerca de 16% da frota de Bogotá e 15% da frota de Santiago. Especialistas afirmam que a substituição dos ônibus a diesel por elétricos é crucial para uma cidade limpa e sustentável, com mais mobilidade urbana e bem-estar social.
No entanto, o processo de modernização do transporte coletivo dessas cidades foi além dos ônibus elétricos. Segundo Aline Leite, doutoranda em engenharia de transportes pela Pontifícia Universidade Católica do Chile, os avanços de Bogotá e Santiago também se devem a outras inovações. “Tivemos alterações estruturais no sistema”, afirma. “Eletrificar a frota foi um ponto-chave, mas o mais importante foi a adoção de um novo modelo de negócio, com novos contratos de concessão e ampliação das fontes de investimento”, diz.
Santiago apostou em contratos menores. Enquanto o habitual eram contratos de até 20 anos de duração, como no Brasil, ali duram entre cinco e sete anos. Modificações também foram realizadas na maneira como esses contratos são estendidos. Em vez das antigas renovações quase automáticas, avaliações de qualidade passaram a ser critério para a prorrogação. “Isso dá ao poder público mais vantagens de planejamento e controle de como serviços serão feitos, o que melhora a experiência da população no transporte público.”
Por aqui, experiências em S.J. dos Campos, Rio e SP
Para especialistas, inovações como de Bogotá e Santiago servem de modelo para o Brasil. Em algumas cidades brasileiras, soluções semelhantes têm sido adotadas. É o caso de São José dos Campos, no interior de São Paulo. A cidade foi além da divisão entre provisão e operação de frota, como nos modelos de Bogotá e Santiago, e definiu também uma terceira divisão para concessão do sistema de bilhetagem eletrônica. Com isso, uma terceira empresa assumirá a responsabilidade pelos recursos tecnológicos – o que pode trazer mais segurança e transparência para os usuários.
Em 2021, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, anunciou que haveria a separação entre provisão e operação no novo modelo a ser adotado para o BRT – a principal aposta em transporte público. A proposta é que esse formato permita melhorias no serviço prestado à população, com mais veículos, menos lotação e intervalos menores entre os ônibus.
Já em São Paulo o objetivo é ampliar a frota com veículos mais modernos. Hoje, são 220 ônibus elétricos, dos quais 19 são 100% movidos a bateria e 201 trólebus. No entanto, a meta do Município é contar com 2.600 elétricos até o fim de 2024. (O Estado de S. Paulo/Guilherme Santiago)