O Estado de S. Paulo/Mobilidade
Por lei, idosos, gestantes, obesos e pessoas com deficiência têm direito à gratuidade no transporte público de São Paulo. Saiba como emitir o cartão que permite andar de ônibus ou metrô sem pagar.
Não dá para falar em eletromobilidade sem questionar o papel do transporte público nessa jornada que está ainda engatinhando – mesmo que o País possua a terceira maior frota de ônibus elétricos da América Latina: 376 unidades, de acordo com o E-Bus Radar , ferramenta digital criada pelo Labmob da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que mede a evolução da frota com zero emissão na região. Apesar de populoso e das dimensões continentais, o Brasil ainda está atrás da Colômbia, Chile e México.
A saída para expandir esse alcance – com claros reflexos na saúde pública, na questão ambiental, na economia, na geração de empregos, entre outros benefícios – está em um “amplo pacote”, de acordo com Iêda de Oliveira, diretora executiva da Eletra, empresa nacional de ônibus elétricos, trólebus e e-retrofit, sediada em São Bernardo do Campo (SP).
Metas
O assunto, entre outros, será debatido durante o Summit Mobilidade 2023, que tem como tema “Inovação e infraestrutura: os caminhos para uma mobilidade sustentável e inclusiva”, evento que acontecerá no dia 31 de maio, das 9h às 18h.
Iêda acredita que, em primeiro lugar, falta uma política pública, em todos os níveis, que abranja a concessão e estabeleça metas, como já acontece com a cidade de São Paulo, que almeja ter, em 2024, 20% da frota eletrificada, correspondente a quase 2.600 veículos. “Esse é um bom exemplo para gerar modelos que possam ser replicados de acordo com a realidade e metas de emissão dos municípios.”
De acordo com a diretora, é preciso que o poder público, especialmente representado pelo governo federal, lidere essa transição como parte de uma diretriz nacional mais ampla. Nesse caso, com base na concessão às operadoras, que também estejam previstas todas as medidas necessárias para essa migração, incluindo a geração de novos empregos e a capacitação de mão de obra.
“Como toda nova tecnologia, a eletromobilidade requer, além de uma infraestrutura, incentivos para a aquisição de frotas. Mesmo que se gaste menos com o elétrico, cerca de um terço quando comparado ao diesel, investir em veículos pesados nesse novo modelo, por enquanto, demanda três vezes mais recursos.”
Conhecimento de sobra
À exceção das células, o Brasil detém toda expertise para a fabricação dos modelos de ônibus elétricos (carroceria, motor, inversor, baterias etc.). De acordo com Iêda, esse cenário representa um importante diferencial, colocando, inclusive, o País em um papel de destaque como o grande exportador para o mercado latino-americano. “Só neste ano, vamos lançar seis modelos de ônibus urbanos, 100% desenvolvidos no Brasil e com tecnologia nacional. Temos que estar na liderança, não só ambientalmente mas do ponto de vista econômico”, explica.
Conforme a executiva, o segmento já prepara um levantamento do setor para apresentar esses dados ao governo federal. “Estamos muito focados no mapeamento de toda cadeia nacional para passar esse conhecimento adiante, mostrando a riqueza dessa produção interna para a geração de tributos e empregos quando se produz um ônibus elétrico. Esses pontos ainda não estão claros e precisamos informá-los para que o Brasil assuma, de fato, seu protagonismo.”
Esse conhecimento trará os subsídios para que o governo possa incentivar essa tecnologia (e outras) dentro de uma estratégia nacional de mobilidade limpa para veículos pesados, além de atuar de forma mais agressiva no mercado externo, principalmente no latino-americano, com as várias opções (gás, biodiesel, entre outras). “É uma oportunidade gigantesca para a exportação, que já perdemos, nos últimos anos, por falta de uma política adequada. Só a Eletra produz elétricos há mais de 20 anos – os últimos dez com tecnologia 100% nacional”, ressalta.
Questão de consciência
Um planejamento para a eletromobilidade em massa vai contribuir, ainda, para a redução desses valores – alavancada desde que haja uma demanda contínua por esses veículos, trazendo mais benefícios à sociedade. “É preciso enxergar o transporte público como parte das atividades essenciais à população, virando também a chave da matriz do ‘particular para o coletivo’, consciência que já existe entre as gerações mais jovens”, reforça.
De acordo com o relatório da WIR Brasil Cidades Sustentáveis (de 2015), a motorização privada e individual é responsável por um terço das viagens realizadas nas áreas urbanas e responde por 73% das emissões de gases poluentes. Iêda calcula que uma empresa pequena de ônibus na cidade de São Paulo, consome, em média, 8 milhões de litros de diesel por mês. De acordo com cálculos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), cada litro desse combustível queimado tem um fator de emissão médio de 2,6 quilos de dióxido de carbono (CO2), que, somados com o valor médio de 0,5 quilo emitido para produzir e distribuir o combustível, chega a uma taxa final de emissão em torno de 3,2 quilos de CO2/l.
Portanto, com mais transporte coletivo movido a energia limpa, menor a emissão de poluentes. Além disso, o modal apresenta baixo nível de ruído, maior conforto ao usuário, menos gastos com manutenção (mais preventiva graças ao alto nível de tecnologia embarcada) que impactam no custo do deslocamento coletivo e, principalmente, maiores ganhos para a saúde pública quando estimula a expansão da eletromobilidade nos grandes centros.
O mesmo relatório da WRI aponta que a poluição do ar é responsável por 3,7 milhões de mortes por ano, e, segundo o Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), as emissões provenientes dos transportes devem dobrar até 2050. (O Estado de S. Paulo/Mobilidade/Patrícia Rodrigues)