O Estado de S. Paulo
Assim como nos veículos com motor a combustão, que dispõem de uma infinidade de sistemas e peças de reposição, o segmento de modelos elétricos busca aumentar as alternativas em termos de infraestrutura de recarga e manutenção. O temor de ficar sem carga no meio do caminho ainda ronda o usuário dos carros movidos a bateria. Mas essa ameaça, aos poucos, está ficando mais distante.
A E-Wolf, empresa de equipamentos de recarga de veículos leves e pesados, vem trabalhando nesse sentido. Ela já instalou 25 eletropostos no Brasil e também oferece opções de carregadores portáteis para levar no porta-malas e que garantem mais tranquilidade em uma viagem de fim de semana ou no dia a dia dos congestionamentos das cidades.
“Os equipamentos funcionam como um estepe. Eles abrangem diferentes situações de recarga, com modelos de 3,5 kW e tomada convencional de 20 A e alimentação de 220 VAC (monofásico)”, afirma Alisson Pellis, gerente comercial da E-Wolf.
O outro modelo, de 7 kW, tem mais potência de carga e requer tomada industrial de 32 A e alimentação de 220 V, monofásico, ideal para percursos que precisam de carga mais rápida. Os equipamentos, afirma a E-Wolf, são homologados pela Tüvi, empresa alemã que se dedica ao setor automotivo.
Segundo Pellis, a certificação é importante porque a instalação dos carregadores deve seguir padrões internacionalmente reconhecidos, “que exigem dispositivos automáticos e manuais de proteção contra surtos elétricos provocados na rede, na bateria de lítio ou no circuito do carro elétrico”.
Mais lentos
Em geral, as montadoras têm parcerias para instalar wallbox na garagem do comprador do automóvel elétrico, mas dificilmente oferecem carregadores portáteis.
A JAC Motors está no time das marcas que possuem esses aparelhos – que podem ser conectados a qualquer tomada de 220 V –, a exemplo da BYD, que tem acordo de fornecimento com a E-Wolf.
Não espere, porém, que os carregadores “de bolso” tenham a mesma rapidez que os eletropostos na operação de recarga. O aparelho de 3,5 kW leva, aproximadamente, 12 horas para realimentar 100% uma bateria de 40 kWh. O tempo cai pela metade quando é usado o carregador de 7 kW.
Pellis conta que o carregador portátil serve, principalmente, para situações emergenciais. Hoje, antes de pegar estrada para uma viagem mais longa, o usuário de carro elétrico está se habituando a fazer um planejamento para saber onde haverá pontos de recarga. “Ainda assim, se não encontrar um eletroposto ao longo do caminho, o motorista pode instalar o carregador portátil na tomada de hotéis, lojas e postos de serviço”, explica o executivo. “Para os estabelecimentos comerciais, isso também é bom, porque atrai para dentro as pessoas que podem consumir.”
Embora tenha a função de auxiliar em casos mais críticos, os equipamentos são utilizados por muita gente como carregador principal, justamente para não depender da infraestrutura instalada nas rodovias ou em pontos da cidade, como estacionamentos de shopping.
Peças importadas
Unidade de negócios do grupo brasileiro WMP, a E-Wolf vende, mensalmente, em torno de 300 carregadores portáteis, que custam de R$ 3 mil a R$ 5 mil. “O cenário do carro elétrico no Brasil é favorável e, por isso, existe a necessidade de mais soluções como essa, uma espécie de curinga do motorista”, destaca o executivo.
Produzidos com componentes 100% importados, os carregadores portáteis são montados na fábrica da empresa, de 12 mil metros quadrados, na cidade de Cerquilho (SP).
Pellis adianta que o plano da E-Wolf é ampliar a linha de produtos voltada aos veículos elétricos. “Estamos de olho no que acontece nos Estados Unidos, na Europa e na China. Queremos trazer todos os dispositivos que sejam úteis ao proprietário de carro elétrico”, completa o gerente comercial.
Troca do módulo
Outra possibilidade de “reparo rápido” do veículo elétrico diz respeito à bateria. A vida útil dela dura, em média, de oito a dez anos. Depois desse período, ela passa pela segunda vida, podendo ser usada como fonte para iluminar lojas, residências ou para ligar eletrodomésticos.
Ainda são raros os relatos de problemas no pacote completo de bateria de um automóvel elétrico. Mas o proprietário pode se deparar com alguma avaria existente em um dos módulos da bateria – alguns componentes possuem 32 módulos.
Dessa forma, não é preciso substituir toda a bateria do carro. Basta remover o módulo defeituoso e trocá-lo por um novo. No Brasil, a BMW, por exemplo, já executa esse serviço em sua rede de concessionárias.
Aluguel de bateria
Mais serviços estão em estudo e, aos poucos, são colocados em prática no mercado. O aluguel de carro elétrico já é uma realidade, mas existe a possibilidade de o usuário também fazer a locação do pacote da bateria, em vez de comprá-lo, quando ele estiver “condenado”.
Afinal, trata-se do componente que representa o custo mais elevado do veículo, e o aluguel apresenta-se como alternativa vantajosa se o dono não quiser se desfazer do automóvel.
Novas tecnologias, que envolvem também pneus e sistema de freios, seguem em desenvolvimento para facilitar a manutenção mais rápida e menos onerosa ao bolso do consumidor. A revisão do carro elétrico é mais em conta do que a do veículo com motor a combustão. Com o tempo, porém, ela pode ser ainda mais simples e barata. (O Estado de S. Paulo/Mário Sérgio Venditti)