Diário do Nordeste
Após a Volkswagen anunciar férias coletivas em três fábricas em fevereiro, nesta semana outras três montadoras também adotaram a medida: General Motors, Hyundai e Stellantis, detentoras de marcas de veículos como Fiat, Peugeot e Citröen.
As paralisações nas linhas de produção serão feitas em fábricas específicas das montadoras, no geral com a finalidade de regularizar o volume de produto no mercado e motivadas pelo ainda baixo estoque de alguns componentes eletrônicos no mercado internacional.
Os juros altos e o menor consumo, aliados ao abastecimento ainda não regularizado de algumas peças, está tornando um cenário difícil para o mercado automotivo. Para o coordenador do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica (CMLE), Vladimir Fernandes, a soma desses fatores propicia que novas montadores adotem férias coletivas, mesmo que não simultaneamente.
A previsão é que sejam emplacados 2,168 milhões de carros em 2023, 3% a mais que os 2,104 milhões emplacados em 2022. Com relação à produção, são previstos 2,421 milhões, 2,2% a mais que os 2,370 milhões do ano passado. É projetada uma queda de 2,9% nas exportações, com a exportação de 467 mil veículos.
Regulação dos níveis de produção
Em nota, a Anfavea afirmou que não possui um posicionamento sobre o tema e que cada empresa fala por sua estratégia e motivo. Reforçou que as previsões apresentadas no início do ano permanecem válidas.
A Hyundai Motor Brasil informou que os funcionários dos três turnos de produção da fábrica de veículos em Piracicaba, no interior de São Paulo, terão férias coletivas entre o dia 20 de março e 2 de abril.
Segundo a empresa, essa medida não inclui as operações da fábrica de motores, localizada no mesmo complexo industrial, que seguirão normalmente.
Também em nota, a Stellantis declarou que um dos três turnos de trabalho da planta de Goiana, Pernambuco, terão férias coletivas entre os dias 22 de março e 10 de abril. Os outros turnos terão paralisação no dia 27 de março, com retorno previsto para o dia 6 de abril.
A empresa ressaltou que as demais plantas continuarão a produzir normalmente. Segundo a Stellantis, a medida se deve à necessidade de ajustar o volume de produção à disponibilidade de componentes.
O Diário do Nordeste também demandou a General Motors, detentora da marca Chevrolet, mas não teve retorno até a publicação.
Cenário difícil
Quando estourou a pandemia, o setor automobilístico teve que realizar uma quebra nas cadeias de produção para respeitar as medidas de distanciamento social. Essa paralisação levou a uma menor quantidade de carros no mercado, elevando os preços.
Quando as fábricas puderam voltar a funcionar, restou um problema ainda resultante da pandemia: a falta de semicondutores, que tiveram também a fabricação paralisada na China. Esse gargalo ainda impacta a produção de veículos hoje, três anos após o início das medidas sanitárias para controle do vírus.
Enquanto a baixa produção puxa para cima o preço dos veículos disponíveis no mercado, a demanda por parte dos consumidores está baixa, tanto pela alta dos juros como pela indisponibilidade financeira de adquirir bens de maior valor.
De acordo com o economista, a adoção de férias coletivas é uma estratégia que já foi utilizada há algum tempo no setor automobilístico. Ele afirma que, no fundo, é uma forma de desaguar os estoques sem ter que demitir funcionários.
Ele aponta que é difícil prever novos grandes movimentos como esse, em que várias montadoras anunciam férias ao mesmo tempo. Mas destaca que é provável que ocorram outros episódios de paralisações de fábricas automobilísticas neste ano, enquanto o abastecimento de peças no mercado mundial se estabiliza.
“A atividade econômica do Brasil está com muitas incertezas, vamos crescer esse ano menos do que estava previsto ano passado, os juros não devem baixar tão cedo. A gente tem uma recuperação da economia feita em bases com empregos de menor remuneração, muito emprego informal. Não tem demanda. Crédito tá caro, e sem injeção de dinheiro não dá para prever um aumento de venda das montadoras, a gente não está em um período bom, o mundo não está em um período bom”, resume.
A projeção é que esse cenário se estabilize ao longo de 2023.
Impacto sobre o preço dos veículos
Para Vladimir Fernandes, a adoção de férias coletivas não deve ter um efeito de alta nos preços dos carros.
“Como se tem um estoque elevado, que não está sendo escoado, a paralisação da produção não vai se refletir em redução de carros para venda. A gente não vai observar uma alta de preços, o que não está vendendo vai fazer esse ajuste”, diz.
Segundo ele, a expectativa na verdade é que os preços tenham uma queda, à medida em que as montadoras estão tentando livrar estoque para o lançamento dos modelos 2024. “O que a gente pode esperar é saldões, feirões de fábrica, para poder entrar a linha nova”, afirma. (Diário do Nordeste/Heloisa Vasconcelos)