Diário do Grande ABC
Mais uma fabricante de veículos pesados do Grande ABC sentiu os efeitos da retração da economia. A Scania não irá renovar o contrato de parte dos trabalhadores temporários cujos vínculos vencem em 1º de abril. A empresa não informou a quantidade de operários que serão atingidos pela medida. A firma encerrou o segundo turno da produção de caminhões, que contava com cerca de 200 operários. Na última segunda-feira, a Mercedes-Benz, comunicou férias coletivas para 300 trabalhadores da produção.
“A Scania informa que fará uso do seu Acordo de Flexibilidade com o SUR (Sistema Único de Representação) dos colaboradores para ajustes no volume de produção e não renovará parte dos contratos de trabalho vigentes até o mês de abril de 2023”, informou a empresa por meio de nota, sem especificar, entretanto, o número de pessoas que irão ficar sem emprego. “Estes desligamentos são ainda reflexos da ausência de políticas específicas para o setor e da ausência de contrapartidas dos trabalhadores nos últimos anos. Agravadas ainda mais pela falta de peças, pela antecipação das vendas em 2022 devido a legislação do Euro 6, conjunto de normas regulamentadoras sobre emissão de poluentes para motores diesel, e principalmente, em função da redução na produção de caminhões por falta de financiamentos, da queda no consumo e das altas nas taxas de juros em nosso País”, afirmou o vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Carlos Caramelo.
Segundo o dirigente sindical, a negociação entre a montadora e a entidade já garantiu renovações e efetivações de outra parcela do grupo de temporários. O encerramento do segundo turno foi confirmado pelo vice-presidente do sindicato, mas não pela Scania. Segundo Caramelo, o fechamento se deve aos mesmos motivos que levaram à não renovação dos contratos temporários.
Juros
No início da semana, o presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos), Márcio de Lima Leite, se reuniu com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e, mais uma vez, manifestou a preocupação com a alta dos juros. “O mercado (de carros zero quilômetro) há dois anos e meio tinha 70% das suas vendas a prazo e 30% à vista. Agora, neste mês, estamos vendendo 70% à vista e 30% a prazo. Significa que esse consumidor (que recorre ao crédito) desapareceu e está indo para mercado de usados, e usados com mais de dez anos de uso”, disse ele após o encontro.
“O mercado começou o ano dando sinais não tão positivos quanto gostaríamos, e apresentamos ao ministro o diagnóstico, passando tanto pelo mercado, por reindustrialização, e perspectivas futuras”, acrescentou. O dirigente informou ainda que a questão da fábrica de peças já foi superada. (Diário do Grande ABC/Nilton Valentim)