O Estado de S. Paulo
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Márcio de Lima Leite, afirmou ontem que a crise de produção nas montadoras no País deixou de ser pela falta de semicondutores para ser puxada pela desaceleração da demanda. A declaração foi dada após reunião com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em Brasília.
Segundo ele, o mercado de veículos automotores inverteu a lógica de funcionamento. “O mercado (de carros zero quilômetro) há dois anos e meio tinha 70% das suas vendas a prazo e 30% à vista. Agora, neste mês, estamos vendendo 70% à vista e 30% a prazo. Significa que esse consumidor (que recorre ao crédito) desapareceu e está indo para mercado de usados, e usados com mais de dez anos de uso”, disse ele após o encontro.
“O mercado começou o ano dando sinais não tão positivos quanto gostaríamos, e apresentamos ao ministro o diagnóstico, passando tanto pelo mercado, por reindustrialização, e perspectivas futuras”, acrescentou.
Como antecipou o Estadão/Broadcast, só na segunda-feira passada três grandes grupos – General Motors, Hyundai e Stellantis (dona de Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën) – suspenderam linhas de produção e decidiram dar férias coletivas, diante de indicações de queda de vendas.
As empresas citam a desaceleração da atividade econômica, inflação alta e juros elevados como fatores que levaram ao ajuste nos planos de produção.
No fim de fevereiro havia 187,4 mil carros nos pátios das montadoras e das concessionárias, suficientes para 40 dias de vendas, acima da média normal, de 30 a 35 dias. Os preços dos carros usados, que haviam apresentado alta valorização no período de escassez dos novos, pararam de subir e até promoções nas vendas dos zero-quilômetro, que estavam raras nos últimos meses, estão de volta.
Tributária
Leite afirmou que o setor apoia os planos de reforma tributária do governo federal, que, segundo ele, pode eliminar “problemas” que atrasam novos investimentos, como o uso de créditos imobiliários. “Procuramos trazer ao ministro algumas sugestões e contribuições, mas sempre dentro da normalidade, e respeitando o texto que está sendo proposto”, disse ele, negando que tenham sido discutidas formas de compensação ao setor por eventuais perdas. “O setor tem hoje R$ 15 bi de créditos de tributos que poderiam ser usados em investimentos, geração de empregos, e hoje fica o dinheiro como um dinheiro sem fazer a economia girar”. (O Estado de S. Paulo/Giordanna Neves e Cleide Silva)