Mercado de ônibus deve repetir resultado de 2022, apostam os fabricantes

Frota & Cia

 

Os fabricantes de chassis e carrocerias para ônibus voltaram a respirar mais aliviados, depois de enfrentarem toda sorte de obstáculos em um passado recente. O motivo é a retomada do movimento de passageiros no transporte coletivo por ônibus, tanto urbano quanto rodoviário, provocada pelo recrudescimento da pandemia da Covid-19 no país, entre outros motivos. Com isso, as vendas de chassis que oscilavam em torno de 14 mil unidades por ano na crise, avançaram para mais de 17 mil unidades no ano passado. O mercado de carrocerias, de outro lado, apresentou uma performance ainda maior, com um crescimento da ordem de 45% nos licenciamentos, de 14 mil para 20 unidades no período 2021/2022.

 

Representantes dos dois setores, entrevistados por Frota&Cia para compor o Panorama 2022/2023 do Mercado de Veículos Comerciais comemoram a retomada das vendas. E, o que é melhor, projetam números muito semelhantes para o ano em curso.

 

Líder histórico no mercado de chassis, a Mercedes-Benz saltou de 5,8 mil para 8,1 mil unidades licenciadas no ano. E, de quebra ainda registrou ganhos de participação de mercado. “O ano de fato foi bastante positivo, tanto para o mercado quanto a marca”, admite Walter Barbosa, vice-presidente de Vendas e Marketing da Mercedes-Benz. Além da retomada dos passageiros pelo sistema de transportes, o executivo destaca outros fatos positivos no período.

 

“As operadoras tiveram de se reinventar no período da pandemia e foi isso muito produtivo. Muitas delas diminuíram o endividamento que tinham com os bancos, pois ficaram dois anos sem comprar. E ainda tiveram de adequar suas frotas para a nova capacidade, aumentando a sua eficiência”, explica Barbosa.

 

Ajuda federal

 

O representante da Mercedes-Benz não descarta também a ajuda do governo federal, calculado em R$ 5 bilhões, que colaborou e muito para a recuperação do segmento urbano. “O recurso serviu para subsidiar a gratuidade acima de 65 anos. Sem contar o subsídio permanente que evoluiu muito nos últimos dez anos, que antes beneficiava meia dúzia de cidades e hoje foi ampliado para mais de 158 municípios”.

 

Em adição, José Ricardo Alouche, vice-presidente de Vendas, Marketing e Serviços da Volkswagen Caminhões e Ônibus, cita o Programa Caminho da Escola vencido pela empresa em 2022 e que ajudou a impulsionar o mercado de ônibus. “Da mesma forma, o fretamento ganhou um novo impulso com a retomada da indústria e a volta dos funcionários ao trabalho presencial”. Por fim, o especialista lembra que os ônibus estão atingindo uma idade média avançada e, por força dos contratos, os empresários tiveram de renovar suas frotas.

 

Outro representante da indústria, o diretor de Vendas da Agrale, Edson Ares Sixto Martins, cita um outro gatilho que ajudou o mercado de ônibus no ano passado. “Por conta da mudança de legislação para o Proconve P-8, o equivalente ao Euro 6, em vigor a partir de 1º de janeiro desse ano, muitas empresas anteciparam as compras por modelos Euro 5, para fugirem do aumento de preços da nova tecnologia. Em contrapartida, esse fator poderá ocasionar uma lacuna, principalmente no primeiro semestre de 2023”, alerta o especialista.

 

Indústria de carrocerias

 

O bom momento do mercado impactou igualmente a indústria de carrocerias, em proporção até maior, admite José Gildo Vendramini, o Zézinho, que atua como gerente Nacional de Vendas da Caio. “Houve uma melhora geral na credibilidade dos operadores, nos órgãos gestores e nos bancos que possibilitou a recuperação de todos os segmentos do mercado de ônibus”, especialmente o urbano.

 

Isso explica por que a Caio alcançou pela segunda vez o topo do pódio do mercado brasileiro de carrocerias, no lugar da Marcopolo. Um feito que rendeu duas certificações do Prêmio Lótus Campeão de Vendas 2023 para a fabricante paulista, primeiro como “Marca de Carroceria” e depois como “Marca de Carroceria Urbana”.

 

Em defesa da companhia, o diretor de Operações Comerciais Mercado Interno e Marketing da Marcopolo, Ricardo Portolan, destaca que o ano de 2022 trouxe muitos desafios, incluindo a oferta de chassis, principal insumo das encarroçadoras de ônibus. “Tivemos de adequar a produção aos novos níveis de demanda, sobretudo em razão da escassez de componentes que prejudicou o fornecimento de chassis. Além do impacto da elevação significativa dos custos, em razão do aumento de preços das matérias-primas e insumos.

 

Mesmo assim, o diretor comemora as conquistas Grupo no ano, como o crescimento de 6% da produção da Geração 8 de ônibus rodoviário da Marcopolo, a entrega de mais de 1000 unidades para o Caminho pela subsidiária Neobus e as vendas da divisão de negócios Volare, que somaram 4.659 unidades no ano. “Esses feitos somados consolidam a Marcopolo como líder de mercado no Brasil, com mais de 52% de market share”, assegura Portolan.

 

Perspectivas 2023

 

Para o ano em curso a previsões são igualmente otimistas, na visão da maioria dos entrevistados. Nenhum deles, é claro, projeta cenários muito diferente de 2022, com pequenas variações. “É difícil precisar um número para 2023”, adianta Walter Barbosa, da Mercedes-Benz. “Pode girar em torno das mesmas 17 mil unidades do período passado, um pouco para menos ou para mais. Tem muitos carros ainda do final de 2022 para serem emplacados esse ano”. Nas contas do vice-presidente, o primeiro semestre será forte para os veículos urbanos e escolares, enquanto o segundo semestre deverá beneficiar as versões rodoviárias, já que boa parte da homologação desses produtos está prevista para esse período.

 

Ricardo Alouche faz coro com seu colega de indústria a afirmar que está animado com 2023, diante das boas perspectivas do mercado continuar crescendo. “O segmento de micro-ônibus vem mostrando reação e o Caminho da Escola tem um volume padrão, já conhecido por todo o mercado. Os urbanos começaram de forma intensa no segundo semestre e devem manter esse ritmo”, aposta o representante da Volkswagen Caminhões e Ônibus.

 

Mais cautelosa, a Agrale aposta no segundo semestre, visto que a indústria ainda sofre os efeitos da crise mundial, que produziu aumentos das matérias-primas, falta de componentes e atrasos logísticos, aliado à acomodação da mudança nas normas de emissões Proconve 8. “Por isso projetamos um período de estabilidade ou leve crescimento em 2023”, projeta Edson Martins.

 

Acima do esperado

 

Do lado das encarroçadoras as opiniões são semelhantes, reforça Zézinho, da Caio. “Os números para 2023 devem ficar semelhantes aos do ano passado. Se houver algum aumento será na faixa de 10%” afirma o diretor, ainda que admita que as vendas no primeiro semestre vêm ocorrendo acima do esperado. Da mesma forma que as vendas de chassis, mesmo com a mudança do Euro 5 para o Euro 6.

 

Ricardo Portolan, por sua vez, estima que o mercado de rodoviários deve continuar demandando mais modelos de veículos pesados, utilizados para viagens de longa distância e turismo. Enquanto o setor de fretamento deve seguir com a manutenção da demanda atual. Já nos urbanos, a manutenção de subsídios criados durante os últimos anos pelas municipalidades vem incentivando renovações por parte dos concessionários.

 

Outro dado relevante, acrescenta o diretor da Marcopolo, é que os investimentos diretos por parte das cidades brasileiras vêm permitindo a modernização de frotas, seguindo uma tendência de acompanhar as melhores práticas no transporte público adotadas em países desenvolvidos. “O segmento segue investindo em produtos de maior valor agregado, com incremento de volumes de ônibus articulados e elétricos. Já o segmento de micros e Volares continuará apresentando boa performance, com incremento de volumes ao setor privado. Da mesma forma que as vendas ao poder público e entregas ao programa federal Caminho da Escola ajudarão o segmento”, projeta Ricardo Portolan. (Frota & Cia/José Augusto Ferraz)