Empresas de ônibus reclamam que elevação do biodiesel ao diesel vai aumentar os custos de operação

Diário do Transporte

 

As empresas de ônibus do País, reunidas pela NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos) divulgaram nesta quarta-feira, 15 de março de 2023, um comunicado se queixando dos possíveis impactos nos custos operacionais dos serviços pelo aumento da mistura do biodiesel ao óleo diesel, que pode chegar a 15% em até 2025.

 

De acordo com as metas do Renovabio, suspensas pelo governo Bolsonaro, o percentual deveria estar em 14% desde março de 2022 e passar a 15% em março de 2023.

 

A mistura já chegou a 13%, mas foi reduzida novamente para os atuais 10%.

 

O Governo Federal estima subir novamente para este percentual até gradativamente chegar aos 15% que já deveriam estar em prática.

 

O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), formado por 14 ministros de Estado, analisa que o aumento da mistura tem a capacidade de reduzir a poluição emitida pelos ônibus e caminhões a diesel e ainda incentivar a agricultura nacional.

 

A primeira reunião do CNPE está prevista para esta sexta-feira (17). A NTU com outras entidades, como a CNT (Confederação Nacional do Transporte), acusa no comunicado que tem ocorrido “uma pressão da indústria do biodiesel sobre os membros” do CNPE.

 

O aumento do percentual de biodiesel poderá ter um reflexo imediato no reajuste das tarifas de ônibus coletivo, já que o custo do biodiesel é maior; o impacto pode variar de acordo com o aumento do percentual de biodiesel. A mudança pode causar também uma perda do desempenho dos veículos do transporte de passageiros e de cargas, além de ter efeitos prejudiciais para o meio ambiente, ao contrário do senso comum. – acusam as empresas no comunicado.

 

Na mesma nota, o presidente executivo da NTU, Francisco Christovam, diz que a entidade apoia a descarbonização, mas critica o biodiesel brasileiro.

 

“O tipo de biodiesel produzido hoje no Brasil, de base éster, gera muitos problemas, quando misturado ao diesel regular em quantidades mais elevadas, como a formação de borra no motor, com alto teor poluidor, além de danificar os componentes mecânicos. O que parece uma solução, na verdade pode piorar bastante a questão ambiental. E há o problema do custo mais elevado, que vai pressionar a tarifa do transporte”.

 

Para a entidade empresarial, 10% atuais de mistura são maiores que em outros países: “nos países europeus, por exemplo, o percentual de mistura autorizado é de 7%, enquanto no Japão, Estados Unidos e Argentina, o teor de biodiesel é de 5%; e no Canadá, varia de 1% a 5%” – defende.

 

A NTU não comenta a estimativa do alegado aumento de custos e diz que o impacto pode variar de acordo com o aumento do percentual de biodiesel, mas citra o peso dos combustíveis nos custos de operação. Segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), o preço médio ponderado do litro de biodiesel B-100 (100% vegetal), praticado por produtores e importadores, estava em R$ 5,12 na primeira semana de março deste ano (dado mais recente disponível); já o litro do óleo diesel comum (S-10) custava R$ 4,07 no mesmo período. Como o biodiesel está mais caro (no caso da semana pesquisada, com um custo 25,7% maior), um aumento no teor do combustível usado pelos ônibus vai impactar no custo dos serviços prestados pelas empresas operadoras: o diesel é o segundo item mais relevante na composição do custo dos serviços de transporte público por ônibus urbano, respondendo atualmente por 33,7% do custo total, ficando atrás somente do custo de mão da obra, que é de 42,4% do total, em média. (Diário do Transporte/Adamo Bazani)