O Estado de S. Paulo/Mobilidade
Com bagagem de mais de 35 anos em montadoras como Ford, Hyundai e Renault, o executivo Cássio Pagliarini tem vasto conhecimento das entranhas do mercado automotivo brasileiro. Não à toa foi escalado pela Seres para comandar o início das atividades da marca chinesa no País, não como subsidiária, mas como operação independente, que leva o nome de Seres Brasil e que é acompanhada com especial interesse pelos dirigentes da matriz. Em entrevista ao Mobilidade, Pagliarini revela a estratégia comercial da empresa.
Por que a Seres resolveu entrar no mercado brasileiro?
Cássio Pagliarini: A Seres Brasil não é subsidiária. Ela chegou ao País por iniciativa de um grupo nacional – com grande experiência na área automotiva –, que vai importar os automóveis. Na China, a empresa foi criada com capital das marcas Dongfeng e Sokon, e começou a produzir comerciais leves nos Estados Unidos. Aqui, teremos todo o acompanhamento dos executivos da matriz, interessados no potencial do mercado local.
A Seres ainda é uma marca desconhecida no Brasil. Como conquistar a confiança do comprador?
Pagliarini: Só vamos oferecer veículos eletrificados com elevado nível de sofisticação e tecnologia e preços bastante competitivos, justamente para que a marca crie uma imagem forte no País. Para ter ideia do compromisso com a qualidade, em 2018, a empresa de tecnologia Huawei, uma das fornecedoras da Seres, estava tendo problemas com o então presidente Donald Trump, dos Estados Unidos. A Seres voltou para sua base, na China, substituiu alguns componentes e redesenhou o SUV Seres 5 EVR, apresentado no Salão de Bruxelas (Bélgica), em janeiro.
Qual é a expectativa de vendas do primeiro lote que desembarcou no Brasil recentemente?
Pagliarini: Nossos automóveis não terão venda em massa; por isso, não haverá nenhuma avalanche de pedidos. E nem é o nosso propósito. Acreditamos no potencial dos produtos e faremos uma divulgação diferenciada para cada um deles. Nosso carro-chefe é o Seres 5 EVR, que chegou no primeiro lote juntamente com outro SUV elétrico, o Seres 3. As vendas começam em março e eles custam, respectivamente, R$ 440.000 e R$ 240.000. Dois veículos comerciais leves elétricos, o baú EC31 (R$ 239.900) e o furgão de carga EC35 (R$ 229.900), estão em homologação. Nasceram para uso urbano e entregam autonomia de 300 quilômetros.
A demanda por utilitários, no Brasil, cresceu demais, por causa das vendas online. No entanto, as vans são muito pequenas ou muito grandes. O EC31 e o EC35 oferecem a medida certa para transportar as encomendas. Particularmente, acredito que o EC31 terá mais repercussão. Se der tudo certo, venderemos 600 unidades em 2023.
Uma das preocupações do comprador diante de uma marca ainda desconhecida é o pós-venda. Como a Seres Brasil trabalha esse aspecto?
Pagliarini: A assistência técnica ao proprietário será total. Em cada cidade onde o carro for vendido haverá uma oficina homologada, além do estoque de peças central para atender às localidades. Vale lembrar que a manutenção de veículos elétricos é mais simples e a revisão programada de nossos modelos acontece em intervalos de 20 mil quilômetros, e não de 10 mil.
Como vão funcionar as vendas dos carros somente pela internet?
Pagliarini: Elas acontecerão por meio das plataformas digitais. O interessado entra no site seresmotors.com.br, se cadastra como cliente e faz a reser va do automóvel. Todo o processo é rápido e fácil. É bom dizer, porém, que ele poderá realizar o test drive para conhecer o modelo na prática e que teremos representantes comerciais espalhados pelo Brasil para atender e ajudar o comprador.
Quais são os concorrentes da Seres no Brasil?
Pagliarini: Temos condições de rivalizar com o Jeep Compass híbrido e com os modelos da BYD, pois nossos automóveis são bonitos, tecnológicos, têm acabamento refinado e são gostosos de dirigir.
Ao vender somente veículos elétricos, a Seres demonstra apostar no avanço da mobilidade elétrica no Brasil?
Pagliarini: Nos últimos quatro anos, nenhuma ação foi feita para o avanço da eletromobilidade no País. Para ser bem sincero, vivemos um vácuo de atitudes mais efetivas nessa área. Há muita coisa a ser feita, como melhorar a qualidade dos eletropostos e reduzir o imposto de impor tação. Para mim, é preciso expandir cada vez mais o conceito da mobilidade urbana. (O Estado de S. Paulo/Mobilidade/Mário Sérgio Venditti)