AutoIndústria
A revelação da Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi nesta segunda-feira, 6, de que uma picape de meia tonelada será desenvolvida pela Renault e produzida em parceria com a Nissan em Córdoba, Argentina, deixa uma interrogação: a Renault Oroch seguirá em produção em São José dos Pinhais, PR, ou será sucedida pel futuro comercial leve argentino?
A resposta oficial deverá tardar um pouco ainda. Mas, a menos que tenha uma carta surpreendente na manga, dificilmente a Renault encontrará mercado para duas picapes compactas na região, ainda mais com a futura sendo compartilhada com a Nissan.
De maior porte e capacidade de carga de 680 quilos, a Oroch surgiu como inteligente alternativa para consumidores que tinham que optar por modelos menores, como Fiat Strada e Volkswagen Saveiro, as duas picapes pequenas mais vendidas no Brasil há décadas, ou os bem maiores e muito mais caros modelos montados sobre chassi, movidos a diesel e capazes dde transportar 1 tonelada de carga.
Por pouquíssimo tempo, porém. A Fiat percebeu o acerto e potencial do novo segmento criado com a Oroch e um ano depois lançou a Toro, líder de vendas desde então. A partir deste mês, uma nova opção desembarca nas concessionárias da Chevrolet: a Montana manteve apenas o nome para fazer frente às duas pioneiras.
Menos pela idade e mais pelo desempenho comercial, é evidente que a Renault precisará encaminhar uma solução rápida para seguir competitiva nos utilitários leves, segmento que tem tudo para continuar em expansão na região.
No ano passado, picapes responderam por mais da metade da produção automobilística e cerca de 30% do mercado na Argentina, enquanto aqui os comerciais leves, incluindo furgões, acumularam 380 mil unidades licenciadas, 19,5% dos veículos leves vendidos.
A Renault teve apenas 5,9% de participação nas vendas brasileiras desse total, menos do que os 6,4% em automóveis de passeio. Consideradas somente as picapes, a fatia da marca francesa foi ainda menor, 3,7%. Das quase 325 mil unidades licenciadas no passado, a Fiat respondeu por 162 mil ou participação de 49,8%.
Também é enorme a desvantagem da Oroch para as líderes no ranking de picapes grandes, como ainda classifica a Fenabrave. Enquanto a concorrente direta Toro ultrapassou 49,5 mil licenciamentos e a segunda colocada Toyota Hilux, 48,6 mil, a Oroch limitou-se a 12 mil unidades, média de quinhentos licenciamentos por mês.
E esse tímido resultado foi alcançado mesmo com a Renault tendo promovido, em abril, as primeiras atualizações estéticas na carroceria, além de um ganho técnico importante, com a adoção do motor 1.3TCe turboflex de 170 cv.
Desde que chegou às revendas brasileiras, no segundo semestre de 2015, a Oroch teve como melhor resultado anual as 14,2 mil unidades de 2016. Em sete anos, acumulou 80 mil unidades.
Cássio Plagiarini, consultor associado da Bright Consulting, entende que a Renault teve o mérito de criar o segmento, mas pecou posteriormente ao não dotar a Oroch de características depois exploradas com sucesso pela Fiat Toro, como versões a diesel e tração 4×4. “Faltaram também um design e uma transmissão automática mais modernos”, acrescenta.
Para o consultor, é muito provável que a futura picape compacta argentina venha a substituir a Oroch brasileira, talvez até mantendo o nome.
A migração faria sentido, segundo Pagliarini. O mercado argentino de picapes é forte, a produção desses veículos na região já está concentrada lá e a Renault precisa melhorar seu balanço comercial entre os dois principais polos produtivos e consumidores do Mercosul – hoje a montadora não importa veículos acabados da Argentina para o Brasil. (AutoIndústria/George Guimarães)