Assinatura de carros zero revela novo perfil de consumidor

Folha Vitória

 

A forma de consumir vem mudando. Fazer o contrato de uma assinatura para utilizar um bem é um fato que tem ganhado espaço em um mundo no qual, antes, a opção predominante era a aquisição em definitivo. Um exemplo real é a assinatura de carros que vem crescendo no Brasil. Em 2021, foram aproximadamente 91 mil automóveis – até o final de setembro de 2022, já foram mais de 106 mil, segundo levantamento da ABLA (Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis). O valor inclui apenas os veículos das empresas de locação e não contabiliza as unidades disponibilizadas pelas próprias montadoras.

 

A assinatura pode ser uma solução para contornar a dificuldade de se obter um carro zero no Brasil. Em 2021, a produção foi reduzida pela falta no fornecimento de semicondutores para a indústria interna. Em 2022, os estoques de veículos se estabilizaram, mas a alta do preço alcançado na pandemia permaneceu, bem como a alta nas taxas de juros. Segundo dados da B3, a bolsa de valores brasileira, a venda de financiados até o mês de agosto somaram 3,5 milhões de unidades, entre novos e usados, uma queda de 10,2% em relação ao ano de 2021, o que equivale a 403 mil unidades a menos.

 

Em oposição a essa queda, no Google Trends, as palavras-chave “carro por assinatura” apresentaram um pico de 83% em outubro. Os estados que mais buscam o termo são, em ordem decrescente: Amazonas, Distrito Federal, São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná. Ainda no contexto dessa busca, os carros mais citados são o T-Cross, da Volkswagen, o Pulse da Fiat e carros do tipo hatch.

 

Assim como o aluguel de uma casa, a pessoa pode contratar o serviço (que não é um aluguel “clássico”) por doze, dezoito ou vinte quatro meses. Ao final do contrato, o carro é devolvido à empresa, que se responsabiliza pela venda no mercado de seminovos – e a pessoa contratante pode renovar a assinatura, trocando o veículo atual por um carro zero.

 

“Até pouco tempo atrás, o vínculo de afetividade entre o dono e o carro era algo muito forte. Esse vínculo segue existindo, mas temos observado um novo fator nessa equação: as pessoas estão passando a priorizar a efetividade e buscar somente a parte positiva de ter um veículo”, pondera Luiza Soares, Gerente Comercial do Carro por Assinatura Porto Seguro Bank, que justifica tal constatação ao afirmar que “sem as burocracias e dores de cabeça” envolvidas na compra de um automóvel, a tendência de popularização deste modelo de assinatura é certa.

 

Novo perfil do consumidor

 

Assim como em um serviço de streaming – no qual o menu de filmes se adapta ao perfil do assinante -, clubes de compra e de fidelidade, a assinatura de carro atende pessoas consumidoras com necessidades específicas. A tendência pode refletir o comportamento de gerações mais novas como a Y e Z, que valorizam a experiência, mas não a posse em si. Para essas pessoas, nascidas a partir de 1981, o automóvel é visto como uma solução para locomoção eficiente.

 

De acordo com a ABLA, outro fator responsável pela mudança de comportamento foi a pandemia de Covid-19, fazendo com que as pessoas evitassem aglomerações em transportes coletivos. Por outro lado, a necessidade do isolamento social também diminuiu o uso dos automóveis por um período. Esse cenário influenciou as escolhas pessoais e, atualmente, os consumidores têm se mostrado mais abertos a considerar a assinatura de um carro em vez de gastar um alto valor na compra do mesmo.

 

Segundo Soares, entre os perfis de clientes que mais se interessam pela assinatura de veículos, estão aqueles que buscam praticidade, sem precisar arcar com as burocracias de uma compra convencional, além de pessoas que estão inseridas no mercado investidor, que se preocupam em utilizar o dinheiro do veículo em um ativo, mantendo a sua liquidez.

 

“Percebemos que hoje em dia, ao escolher um veículo, os consumidores têm buscado conforto, praticidade e soluções que podem proporcionar economia de tempo”, finaliza a gerente. (Folha Vitória)