O Estado de S. Paulo
Desde que deixou de produzir veículos no País, no ano passado, a Ford tem focado sua atuação em pesquisa e desenvolvimento, além da importação de modelos da marca. Ciente de que o setor automotivo vai demandar tecnologias de eletrificação, conectividade e autonomia cada vez mais avançadas, a empresa anunciou ontem a criação do Ford Academy. Uma das atividades será a capacitação, na área tecnológica, de jovens de baixa renda, especificamente em programação, segmento em ascensão.
O projeto tem a parceria do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e funcionará nas instalações do instituto de ensino no bairro do Ipiranga, na zona sul da capital paulista. As inscrições para o curso foram abertas ontem. Serão selecionados 200 alunos com mais de 18 anos e ensino médio completo. É gratuito e não exige conhecimento em tecnologia. A primeira turma começa em 16 de janeiro com 80 estudantes.
A Ford vai fornecer verba para alimentação e transporte na área metropolitana e Grande São Paulo, e haverá disponibilidade de computadores. “Vamos manter o olhar na diversidade. Pessoas autodeclaradas negras, pardas, amarelas ou indígenas, pertencentes à comunidade LGBTQI+, mulheres e trans serão priorizadas no processo seletivo”, afirma Rogelio Golfarb, vice-presidente da Ford América do Sul.
Carência global
A Associação Brasileira de Empresas de Tecnologias da Informação e Comunicação (Brasscom) informa que a falta de profissionais na área de TI (tecnologia da informação) é global. Só o Brasil, segundo a entidade, vai demandar cerca de 800 mil profissionais até 2025. A entidade calcula que haverá um déficit de mais de 500 mil especialistas no setor, caso não surjam ofertas de treinamentos. Hoje, essa lacuna já é de 400 mil profissionais.
De acordo com Golfarb, após a conclusão do curso, com duração de seis meses, o Senai vai ajudar os alunos a encontrar colocação profissional. “Aqueles com performance superior vão poder fazer um curso extra e concorrer a uma vaga na Ford, pois esse também é um dos interesses da empresa: gerar talentos para fazer parte da nossa equipe.”
Nesse novo formato de atuação no País, a Ford ampliou a capacidade do seu centro de pesquisa e desenvolvimento na Bahia. Em maio, contratou 500 engenheiros, elevando para cerca de 1,5 mil o total de profissionais nessa área.
O centro tem atualmente 25% de suas atividades voltadas às adaptações aos veículos importados e 75% na cooperação e desenvolvimento de projetos globais. Neste ano, o grupo vai faturar R$ 500 milhões em exportação de engenharia.
Braço do centro de pesquisa, a Ford Academy também vai realizar seminários, cursos e visitas para funcionários, distribuidores e frotistas sobre eletrificação, tecnologias autônomas e treinamento técnico para mecânicos da rede autorizada. O valor investido no projeto não foi informado. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)