O Estado de S. Paulo
Como consequência dos lockdowns na China que ampliaram as dificuldades de abastecimento na indústria, fábricas das três maiores montadoras do País – Fiat, Volkswagen e General Motors (GM) – estão parando novamente por falta de componentes eletrônicos. O problema também atinge, de forma ainda mais disseminada, a indústria de aparelhos eletrônicos, onde o total de fábricas com atrasos é o maior desde o início da crise dos semicondutores.
Da guerra entre Rússia e Ucrânia, de onde saem insumos essenciais à produção dos chips, à morosidade na liberação de cargas em alfândegas, as duas indústrias vêm enfrentando obstáculos para manter as linhas funcionando sem interrupções.
Com o empenho da China em zerar os casos de covid, a situação se tornou mais desafiadora, pois o congestionamento de navios provocado pelo fechamento de portos no país reduziu a disponibilidade de contêineres e embarcações para o transporte de mercadorias.
A Fiat não vai fabricar carros nos próximos dez dias em Betim (MG) por falta de peças. O pessoal das linhas de automóveis entra hoje em férias coletivas; nas linhas de motores e transmissões, as férias já começaram na segunda, 20.
Assim como fez no mês passado, a Volkswagen vai parar a produção em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, a partir de segunda-feira – dessa vez por dez dias, e não 20 como em maio. No retorno ao trabalho, no dia 7, os funcionários terão a jornada de trabalho reduzida em 24% (um dia por semana) e os salários em 12%. Também está prevista uma parada entre os dias 4 e 23 de julho na fábrica do grupo no Paraná.
Conforme informações de sindicatos, a GM, que na última terça-feira interrompeu a produção do Onix em Gravataí (RS), parou ontem a fábrica de São José dos Campos (SP) apor três dias.
Queda na produção
Desde o início da pandemia, a indústria brasileira deixou de produzir cerca de 1,6 milhão de veículos. Só no primeiro ano da crise sanitária, foi 1,14 milhão de unidades, segundo a Anfavea, a associação das montadoras. Naquele ano, todas as montadoras do País suspenderam atividades por várias semanas, mas o motivo era evitar o contágio da covid-19. Em 2021, quando já operavam normalmente, o que paralisou as fábricas foi a falta de chips e cerca de 370 mil veículos não foram produzidos.
Neste ano, até maio, ocorreram 16 paradas de fábricas, o equivalente a 320 dias inativos (média de 20 dias por empresa), segundo a Anfavea. Nesse período, 150 mil veículos deixaram de ser produzidos. Em março de 2020, quando a pandemia se alastrou, o setor empregava 107 mil funcionários. Hoje são 101,8 mil, 5,2 mil a menos.
O consultor Cássio Pagliarini, da Bright Consulting, avalia que, se o mercado brasileiro tivesse mantido o ritmo de crescimento registrado entre 2016 e 2019, na casa de 9% a 10% ao ano, hoje as vendas internas estariam próximas de 3,3 milhões de unidades. A previsão da Anfavea, contudo, é de atingir, no máximo, 2,3 milhões de unidades. “É difícil separar a participação de cada situação na perda de produção e vendas, pois tem a crise da pandemia, a falta de suprimentos, problemas de logística, guerra na Ucrânia, alta dos preços das commodities, alta dos preços dos automóveis e instabilidade política”, pondera Pagliarini. (O Estado de S. Paulo/Eduardo Laguna e Cleide Silva)