Revista Torque
A União Europeia (UE) saiu na frente dos três outros grandes polos da indústria automobilística mundial – China, EUA e Japão – no cronograma efetivo de implantação de automóveis e comerciais leves (furgões e picapes) com emissão zero de gás carbônico (CO2). O Parlamento Europeu com 56% de votos favoráveis estabeleceu agora duas datas-limites: este gás de efeito estufa terá de diminuir 50% até 2030 e 100% até 2035.
Pesou nessa decisão os estudos da Comissão Europeia que apontaram o transporte em ruas e estradas como responsável por 20% de toda a emissão de CO2. Mas pelo menos 5% se referem a caminhões e ônibus a diesel e para estes não foi apontada uma solução mandatória nem prazo específico. Por outro lado, os eurodeputados deixaram de engessar as soluções técnicas.
Há três opções: carros elétricos a bateria, eletropilhas a hidrogênio (fuel cell) que alimentam o motor elétrico e até motores a combustão interna abastecidos exclusivamente com hidrogênio que só emitem vapor d’água pelo escapamento. Essa terceira alternativa é pouco viável, embora algumas fabricantes ainda a considerem por ter impacto bem menor no preço dos carros convencionais. Hidrogênio é o elemento químico mais presente no planeta, mas separá-lo da água exige grande quantidade de energia elétrica e depois armazenamento a pressão altíssima de 800 bares.
Faltam duas etapas mais fáceis de vencer: a reunião homologatória do Conselho de Ministros da UE, no segundo semestre, e a concordância unânime dos 27 países deste bloco econômico. No total o continente europeu reúne 50 países e nem todos têm condições financeiras de seguir essa decisão.
Outro ponto importante: os europeus querem uma rede pública, nas estradas, de postos de recarga ultrarrápida de pelo menos 150 kW. Entretanto, a maioria dos postos só utiliza os de 50 kW. Já existe uma diretiva (não ainda uma obrigação) de que até 2025 se implante pelo menos um carregador ultrarrápido a cada 60 km de rodovias internacionais e até 2030 nas estradas secundárias.
Trata-se de um desafio que governos e empresas independentes terão de vencer juntos. Recargas nas cidades são fáceis de implantar e o uso urbano do carro elétrico deve se transformar em algo corriqueiro. Os estudos apontam que há necessidade de pelo menos 350.000 postos de recarga na UE, mas estes ainda não chegaram a 100.000.
Os subsídios por parte dos governos nacionais na compra de um carro elétrico ou híbrido plugável continuam. Nas, no início desta semana a Inglaterra, que não faz parte da UE, decidiu cortar todos os estímulos fiscais existentes desde 2011. O governo inglês tem uma meta mais ambiciosa: em 2030 todos os carros novos serão elétricos. Vai direcionar seus investimentos na ampliação da rede de recarga e de geração de energia eólica para garantir eletricidade a partir de fontes que não emitam gás carbônico.
O Brasil tem 80% de sua geração de energia elétrica sem emissão de CO2. Entre os desafios estão os preços altos dos modelos elétricos, a rede de recarga em estradas e falta de escala para produção local. Principal incentivo atual é a isenção do imposto de importação de 35% sobre veículos elétricos. (Revista Torque/Fernando Calmon)