AutoIndústria
A explosão da oferta de SUVs a partir de meados da década passada matou alguns segmentos do mercado brasileiro de automóveis, como o das station wagons, mas também feriu outros de quase morte. Passados os cinco primeiros meses de 2022, das treze categorias listadas pela Fenabrave, nada menos do que sete têm, somadas, apenas 2 % do mercado: 10,9 mil dos quase 550 mil carros de passeio licenciados.
O quadro fica ainda mais sombrio para seis deles quando se sabe que metade desses emplacamentos se deveu a um único veículo, a Chevrolet Spin. Ou seja, todas as vendas acumuladas de mais de trinta outros carros limitaram-se a meras 5,5 mil unidades – só em maio, o T-Cross, SUV da Volkswagen líder de vendas, teve 6,4 mil unidades negociadas.
Um segundo efeito dessa concentração da indústria automobilística em utilitários esportivos, que já tem em torno de cinco dezenas de representantes, pode ser percebido em todos os demais segmentos: o encolhimento da oferta de veículos permite que dois ou três modelos detenham a grande maior das vendas e, não raro, um único carro responda por mais da metade dos negócios.
A Spin, por exemplo, representa 96% das grandes vendidas, enquanto o BMW 320, por 63,5% dos sedãs grandes, segmento onde estão classificados outros onze modelos. Dentre as categorias de maior volume, o Chevrolet Onix se destaca entre os sedãs compactos, com 51,6 % de participação, mesmo disputando clientes com mais quatro veículos.
Quem deseja um sedã compacto tem, segundo a Fenabrave, cinco opções. Mas somente duas, Hyundai HB20 e Fiat Cronos, representam mais de 65% dos emplacamentos, com o primeiro bem à frente, com 36,6%.
No caso dos modelos de entrada, que durante quase duas décadas foi o grande filão da indústria e mais de uma dúzia de alternativas, agora existem apenas três opções. O Fiat Mobi dominando 45% dos emplacamentos, seguido do Renault Kwid, cuja fatia é de 30%.
E esses porcentuais devem crescer no transcorrer dos próximos meses, já que o veteraníssimo Volkswagen Gol, terceiro colocado, com quase 24% das vendas, vive seus últimos dias de produção.
O Toyota Corolla, histórico líder entre os sedãs médios neste século, também está se beneficiando da redução da concorrência em 2022. O segmento tem o segundo maior cardápio de opções do mercado, quase duas dezenas de modelos, mas perdeu o Honda Civic nacional, que deixou de ser fabricado no fim de 2021.
O maior rival do Corolla ao longo de mais de duas décadas passará a ser importado no segundo semestre e, por conta disso, dificilmente terá a mesma competitividade de preço e fôlego de mercado. Em 2021, o Honda respondeu por 25% dos licenciamentos no segmento, participação que encolheu para 8% de janeiro a maio, quando ainda restavam muitas unidades nos estoques das concessionárias.
Na mesma comparação, as vendas do Chevrolet Cruze, terceiro colocado no ano passado, subiram de 9% para 16% e as do Corolla avançaram ainda mais: de 54% para 69%. Portanto, o segmento de sedãs médios agora tem 85% de suas vendas concentradas em apenas dois veículos.
Descontados os 8% do já aposentado Civic brasileiro, restaram somente 7% dos licenciamentos divididos entre dezessete outros modelos, alguns limitados a poucas dezenas, mas, não fosse o desinteresse das marcas e consumidores, com potencial para vendas bem maiores, seja pelo preço ou perfil de produto.
SUVS: Mais concorrentes e pulverização das vendas
Tudo muito diferente quando se analisa o segmento de SUVs. O líder T-Cross tem 10,3% dos emplacamentos no acumulado do ano, com o Jeep Compass meio ponto porcentual atrás e o terceiro colocado, o Hyndai Creta, distante 1,3 ponto porcentual apenas. A diferença do primeiro colocado para o 10º no ranking é de 7 pontos porcentuais. Mais de 50% das vendas do segmento dependem da somatória dos seis primeiros classificados.
Com cerca de 47% de todos os automóveis vendidos no País, os utilitários esportivos equivalem, praticamente, à soma de todos os demais segmentos – na prática, de cada dois veículos emplacados, um é SUV. E nada indica que essa relação deva cair.
Ao contrário, mais novidades vêm por aí e a voracidade dos SUVs deve fazer encolher ainda mais a presença de hatches e sedãs nas linhas de montagem e showrooms, fazendo deles segmentos de uma, duas ou no máximo três notas só. (AutoIndústria/George Guimarães)