O Estado de S. Paulo
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) espera para até o início de julho o anúncio, por parte do Ministério da Economia, de um programa para estimular a produção local de semicondutores. O item é um dos que estão em uma lista de produtos que provocam “gargalos” na produção por causa da dependência de fornecimento de poucos países.
Além da falta de semicondutores, que neste ano já provocou a paralisação de 16 montadoras, a escassez de outros produtos como cabos, resinas, borracha, tintas e solventes também vem prejudicando as montadoras. “Estamos apresentando propostas ao governo sobre um processo de reindustrialização de itens estratégicos”, afirma o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite.
Segundo ele, enquanto o fornecimento desses produtos estava em dia, as indústrias não se atentavam para isso. Com a pandemia, a dependência de outros países, na maioria asiáticos, ganhou foco. No caso dos semicondutores, é esperada uma legislação que regulamente a produção local e atração de investimentos.
O executivo acredita que o programa contenha medidas relacionadas a amortização de investimentos, algum tratamento tributário diferenciado, como depreciação acelerada, por exemplo, e simplificação de processos para exportação. O tema foi um dos assuntos discutidos na reunião de mais de duas horas entre dirigentes da Anfavea e o ministro da Economia, Paulo Guedes, na semana passada.
Leite acredita que o Brasil tem condições de atrair, inclusive, interessados no processo de fundição (conhecido como foundry), que é a etapa mais relevante e a que exige mais investimentos na cadeia produtiva de semicondutores.
Enxugar gelo
Ainda no aguardo da regulamentação da medida provisória que criou o programa Renova, publicada em 1.º de abril, a Anfavea também tem reforçado ao governo federal a necessidade de agilizar medidas para retirar das ruas veículos velhos como parte dos esforços de descarbonização do setor automotivo e de maior segurança veicular.
Leite diz que as fabricantes estão cumprindo sua parte ao atender legislações cada vez mais severas de produção de carros menos poluentes. Ele afirma, porém, que esse esforço “não pode ser enxugar gelo”. Segundo o executivo, um carro com 30 anos polui o equivalente a 23 modelos novos.
“É preciso olhar para essa frota circulante, que é bem antiga”, afirma Leite. Desde que assumiu a presidência da Anfavea, no início de maio, o executivo tem peregrinando por vários ministérios. “Não estamos pedindo nada, mas apresentando diagnósticos do setor e soluções”, informa.
Segundo ele, “é uma aproximação muito menos política e mais técnica”, muitas vezes com equipes que não dependem de mandatos presidenciais. A Anfavea defende há vários anos programas de renovação da frota e de inspeção veicular.
O Renova é direcionado apenas a caminhões com mais de 30 anos, mas ainda não foi regulamentado. Leite espera que a medida seja publicada ainda este mês. Ele torce também para que na sequência venha um programa para renovação de automóveis mais velhos, mas admite que deve demorar. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)