O Estado de S. Paulo
No Brasil, as 20 empresas de encapsulamento de semicondutores atendem apenas 10% da demanda local, informa a Associação Brasileira da Indústria de Semicondutores (Abisemi), entidade que também acompanha as negociações com o governo para atração de empresas do ramo.
Só na indústria automotiva, com a falta de semicondutores no ano passado, o Brasil deixou de produzir 345,5 mil automóveis. No mundo todo houve perda de 10,2 milhões de unidades. Para este ano estão previstas perdas globais de 7 milhões a 8 milhões de carros. No Brasil, só de janeiro a abril as montadoras deixaram de produzir cerca de 100 mil automóveis.
Na opinião do analista de mercado automotivo da consultoria Globaldata, José Augusto Amorin, o investimento na fabricação de microchips é “altíssimo” e a demanda na América Latina é baixa frente a países da Ásia, Europa e EUA. “O Brasil não tem como competir com os mercados maiores e, infelizmente, não tem uma política séria de exportação, principalmente para produtos de alto valor agregado”, avalia Amorin.
Outro problema, ressalta ele, é que o processo produtivo exige o uso de muita água limpa e há incertezas sobre a capacidade do País em manter o fornecimento sem interrupções.
Márcio Kanamaru, sócio da KPMG, acrescenta que, além de escala, o Brasil tem déficit de mão de obra qualificada. “O País teria de criar uma força tarefa muito grande de investimento massivo no ensino para capacitação desses profissionais.”
Ele acredita, contudo, que o Brasil tem uma série de oportunidades e de demandas que estão surgindo, principalmente com a chegada do 5G. “O Brasil deveria ser um candidato natural de um programa suprapartidário para atração de empresas para poder criar plantas não só para fabricar sistemas, mas também desenhar e ter essas capacidades intelectuais que estão no topo da pirâmide”, afirma.
Para Carlos Della Libera, da Bain & Company, seria importante o governo brasileiro ter ao menos uma política de segurança de abastecimento de semicondutores. Mas, sobre fabricação local, também está na ala dos céticos. “Duvido que saia uma fábrica de semicondutores aqui; talvez saia uma pressão para o governo dar um incentivo adicional para comprar algo de fora.”
Multinacionais não têm interesse em atuar com chips no Brasil
A Intel, que já esteve perto de ter uma fábrica de semicondutor no País, informa agora que “o Brasil é um dos 10 mercados prioritários para a Intel no mundo”, mas o grupo seguirá “com a estratégia para atender o mercado global e olhando para novas oportunidades de investimentos”.
O presidente da Bosch América Latina, Gastón Diaz Perez, assinala ver “com bons olhos” a iniciativa entre governo e empresas brasileiras em tentar atrair investimentos no setor, mas que o grupo, no momento, “não tem planos de implantar fábrica de chip no Brasil”.
O mesmo informa a Samsung, que já foi procurada por representantes do governo federal com o pedido de trazer uma unidade de semicondutores ao País. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)