Real desvalorizado e mercado interno em queda no ano incentivam exportações

AutoIndústria

 

A forte desvalorização do real nos últimos dois anos e a restrita oferta de veículos em vários mercados da América do Sul, igualmente afetados pela produção global irregular, estão alavancando as exportações brasileiras. As montadoras locais, ainda que reclamem da falta de componentes e, por conta disso, dos cerca de 150 mil veículos que deixaram de produzir até agora em 2022, comemoram uma robusta retomada dos embarques.

 

No acumulado dos primeiros cinco meses do ano, deixaram o Brasil rumo a países vizinhos cerca de 199 mil automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, 19,4% a mais do que em igual período de 2021.

 

Mas a comparação que deixa Márcio Leite, presidente da Anfavea, muito mais animado é com o desempenho do setor ainda antes da pandemia e da crise de fornecimento de componentes desencadeada a partir dela.

 

Em 2019, sem qualquer problema de ordem global, o Brasil exportou 187 mil veículos de janeiro a maio, número que recuou para 100 mil em 2020 e 167 mil no ano passado. “Estamos em uma recuperação consistente”, avaliou o dirigente, há apenas dois meses à frente da entidade que congrega os fabricantes de veículos.

 

Leite também comemora o avanço de 27% no faturamento com as exportações no ano. Os US$ 3,9 bilhões superaram em 27% o valor apurado de janeiro a maio de 2021. Em 2019, com a cotação do dólar variando sempre abaixo dos R$ 4,00, o setor faturara US$ 1 bilhão a menos no mesmo período.

 

Só em maio, as montadoras brasileiras enviaram para o exterior – arrecadando mais de US$ 943 milhões -, cerca de 46,1 mil automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, crescimento de 25% sobre o mesmo mês do ano passado.

 

É o melhor resultado mensal em quase quatro anos, superado somente por agosto de 2018, quando foram embarcados 56,7 mil veículos.

 

Analistas do setor entendem que, além do câmbio favorável que deixa os produtos nacionais mais competitivos no exterior, o que facilita também potenciais novos contratos, os embarques têm sido “anabolizados” para cumprimento de contratos antigos, que precisavam ser honrados depois das dificuldades logísticas e produtivas desde 2020. “Se as empresas perderem esses mercados, fica mais difícil recuperar depois”, enfatiza um deles.

 

A debilidade das vendas internas em 2022 é apontada como outra mola a impulsionar as exportações. “O mercado brasileiro já não está mais aquela maravilha para alguns modelos e marcas. Se começar a sobrar carro no Brasil, o mercado vai dar desconto e todos vão perder, montadoras e concessionárias”, completa o analista, que faz questão de chamar a atenção para o surgimento de algumas campanhas publicitárias que já destacam carros novos para pronta entrega e com preços mais baixos. (AutoIndústria/George Guimarães)