O Estado de S. Paulo
A retomada das atividades após o fim da fase mais aguda da pandemia movimentou o setor de serviços e fez com que o Produto Interno Bruto brasileiro crescesse 1% no 1.º trimestre, ante o 4.º trimestre de 2021. O PIB também foi impulsionado pelo aumento da demanda internacional por matérias-primas. A agropecuária caiu 0,9%. Integrantes da equipe econômica consideraram o resultado “robusto”. A inflação e os juros em alta podem ter impacto no crescimento da economia nos próximos meses. Projeção de 28 instituições financeiras apontou, na média, para avanço de 1,5% do PIB no ano.
O afrouxamento das restrições sociais impostas desde o início da pandemia favoreceu o setor de serviços e puxou a economia no primeiro trimestre. Com a recuperação do movimento de bares, restaurantes, hotéis e serviços de lazer, o Produto Interno Bruto (soma de todo o valor gerado na economia) cresceu 1%, na comparação com o quarto trimestre de 2021. O número também foi impulsionado pela alta da demanda internacional por matérias-primas produzidas pelo País.
O dado divulgado ontem pelo IBGE veio ligeiramente abaixo do esperado pelo mercado, de 1,2%, segundo levantamento do Projeções Broadcast feito no início da semana. Ainda assim, segundo analistas, confirmou um cenário mais positivo do que o projetado antes. O governo classificou o resultado como “robusto”.
Nova pesquisa do Projeções Broadcast com economistas de 28 instituições, concluída na tarde de ontem, apontou para avanço de 1,5% do PIB fechado no ano, considerando a mediana das respostas – ante 1,4% na sondagem anterior.
Entre as instituições que mudaram suas apostas, estão BNP Paribas (-0,5% para 1,5%), JPMorgan (1% para 1,2%), Citi (0,7% para 1,4%) e Santander (0,7% para 1,2%). Algumas consultorias citaram alta mais próxima de 2%, mas é quase consenso que haverá uma freada no segundo semestre, por causa do efeito da puxada dos juros para conter a inflação.
“Uma parte da explicação sobre 2022 é que 2021 não acabou. Não tínhamos conseguido reabrir toda a economia no ano passado”, disse Silvia Matos, pesquisadora do Ibre/FGV.
O setor de serviços puxou a economia pelo lado da oferta, com avanço de 1% ante o quarto trimestre de 2021, enquanto a indústria cresceu 0,1%. Já a agropecuária, que sempre funcionou como motor do PIB, caiu 0,9%, já que a safra de soja foi quebrada pela seca que atingiu a região Sul no verão. Do lado da demanda, o consumo das famílias avançou 0,7%.
“Quando olhamos para a arrecadação, importações fortes, geração de empregos formais e informais e indicadores auxiliares, mesmo a própria inflação, a economia está em um crescimento forte”, disse o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa.
Inflação
Segundo Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, a disparada da inflação e a consequente elevação dos juros – que deverão ter impacto mais forte no segundo semestre – já se fizeram sentir nos resultados do PIB do primeiro trimestre. “Não fossem a inflação e a Selic (taxa básica de juros, hoje em 12,75% ao ano), o consumo poderia ter aumentado mais.”
Para Guilherme Mercês, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o efeito dos juros poderá ser reforçado pelo excesso de endividamento. Sondagens da entidade mostram que oito em cada dez famílias têm dívidas a vencer – o maior nível em 12 anos. (O Estado de S. Paulo/Daniela Amorim, Vinicius Neder, Bárbara Nascimento, Guilherme Bianchini e Cícero Cotrim)