O Estado de S. Paulo
O Brasil possui um dos mais altos índices de acidentes do mundo e, historicamente, não por acaso, também é conhecido pelos elevados limites de velocidade para os veículos. De acordo com Ana Luiza Carboni, diretora da União de Ciclistas do Brasil (UCB), se um atropelamento acontece a 30 km/h, há 10% de chance de o pedestre morrer; já se o incidente ocorrer a 50 km/h, a chance de morte é de mais de 80%. “Pedestres e ciclistas são as principais vítimas dessa realidade. Por isso, é urgente que o Poder Público tome iniciativas para proteger essas vidas. Trata-se de uma pauta de saúde pública”, explica a executiva da UCB, organização que promove o uso da bicicleta no País.
Neste mês dedicado à segurança viária, a UCB, juntamente com diversas outras organizações, promoveu, em Brasília (DF), eventos para lançamento do Projeto Vias Seguras, que busca levar esclarecimento ao debate da redução das velocidades nas vias brasileiras, propor alteração na legislação, além de campanha de conscientização da sociedade.
Embasamento técnico
Para apoiar a causa, a UCB contratou uma pesquisa, feita pelo Instituto Multiplicidade Mobilidade Urbana, que tem como objetivo mensurar o impacto de boas práticas de redução de velocidade no número de mortos e feridos em São Paulo, Fortaleza e Curitiba, no Brasil, em Bogotá, na Colômbia, e em Santiago do Chile. “E levantar a opinião dos motoristas brasileiros nesse assunto”, explica Ana Luiza. Segundo ela, também está sendo produzido um parecer jurídico para mobilizar atores-chave para a alteração da legislação atual sobre o tema.
Entre os principais resultados do estudo estão que nove motoristas, em cada dez, entendem que o nível de mortes nas vias brasileiras é alto e que essa é uma questão urgente.
Apesar disso, oito em cada dez entrevistados não citam a redução nos limites de velocidade entre os fatores mais importantes para diminuição nas mortes, apesar de metade deles concordar que velocidades mais baixas evitam óbitos. “Essa contradição mostra que temos um trabalho importante de comunicação e de educação a ser feito para desmistificar a redução nas velocidades como sendo algo inútil ou negativo”, conclui Ana Luiza.
Mais frágeis
Focando, especificamente, nos ciclistas, o estudo revela que, na cidade de São Paulo, em torno de 48,5% do total de mortes de pessoas que estavam em bicicletas foram causados por automóveis. “De fato, os automóveis estão envolvidos em mais de 50% das mortes no trânsito da capital quando incluímos, além dos ciclistas, os pedestres. Isso demonstra a necessidade de acalmar o tráfego como forma de humanizar as cidades e salvar vidas”, explica Glaucia Pereira, fundadora da Multiplicidade Mobilidade Urbana, empresa responsável pela pesquisa. (O Estado de S. Paulo/Daniela Saragiotto)