O Estado de S. Paulo
Ainda sem o efeito da alta dos combustíveis, prévia da inflação de março foi a 0,95%, pior registro para o mês desde 2015.
Turbinada pelo encarecimento dos alimentos, a prévia da inflação oficial no País se manteve pressionada em março. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15) registrou alta de 0,95%, resultado mais elevado para o mês desde 2015, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Embora já acentuada, a prévia da inflação nem absorveu integralmente o megarreajuste de combustíveis nas refinarias anunciado pela Petrobras, em vigor desde o dia 11 (para a pesquisa, os preços foram coletados entre 12 de fevereiro e 16 de março). Mesmo assim, o IPCA15 em 12 meses subiu a 10,79%, maior patamar em seis anos, afastando-se ainda mais da meta de 3,50% perseguida pelo Banco Central (BC) em 2022. Após a divulgação, alguns economistas ajustaram suas projeções para cima.
O Banco Original elevou de 1,10% para 1,25% a projeção para o IPCA de março, e a expectativa para a inflação de 2022, de 6,90% para 7,0%. A LCA Consultores aumentou a sua projeção de inflação de 2022 de 6,7% para 7,0%, o que considera um IPCA de 1,26% no fechamento de março. O banco Credit Suisse elevou sua projeção para o IPCA de 2022 de 7,0% a 7,8%, e o banco britânico Barclays, de 6,2% para 6,6%.
“A guerra Rússia-ucrânia aumentou a, já existente, frustração com relação à moderação do descasamento das cadeias produtivas globais – com reajustes relevantes de curto prazo em petróleo, minério de ferro e algumas commodities agrícolas –, o que nos fez reavaliar o tamanho do alívio que poderá eventualmente vir do atacado ao longo deste ano”, disse em relatório o economista Fábio Romão, da LCA Consultores.
A gestora de recursos Rio Bravo Investimentos também deve elevar sua estimativa de alta de 1,0% para o IPCA fechado de março. “A divulgação do índice, dada a surpresa, é ruim como um todo. E o qualitativo acaba enfatizando esse tom negativo”, disse o economista Luca Mercadante, da Rio Bravo. “O BC tem colocado que o pico da inflação vai ser em abril, mas o que temos visto é que ela parece mais persistente ao longo do ano. O IPCA deve começar a arrefecer em maio, mas as pressões ainda são todas altistas.”
Juro em alta
O cenário sugere que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC deva subir a taxa básica de juros, a Selic, a 13,25% ao ano, com mais duas rodadas de elevações, uma de 1 ponto porcentual e outra de 0,5 ponto porcentual, opinou o economista-chefe da corretora de valores Necton Investimentos, André Perfeito.
Já o C6 Bank prevê que a Selic suba a 12,75% ao ano na reunião do Copom de maio, permanecendo nesse patamar até meados do próximo ano.
“Entre os itens que puxaram para cima a alta de março está a gasolina, que começou a ser pressionada pelo reajuste de 18,7% anunciado pela Petrobras no último dia 10. O efeito desse aumento será sentido de maneira mais forte nas próximas divulgações”, disse a economista Claudia Moreno, do C6 Bank, em nota. “A inflação dos bens industriais também veio acima do previsto, refletindo a ruptura nas cadeias globais de produção provocada pelo coronavírus e agravada pela guerra na Ucrânia. Essa desorganização deve se prolongar por mais um tempo, pressionando os preços de bens industriais.”
Todos os nove grupos de despesas do IPCA-15 tiveram alta. Os gastos das famílias com alimentação e bebidas subiram 1,95%, responsáveis por quase metade da inflação do mês.
A alimentação no domicílio ficou 2,51% mais cara, impulsionada pelas remarcações de preços em itens impactados por problemas climáticos. O custo da alimentação fora de casa também subiu: 0,52%. Nos transportes, o maior impacto partiu da gasolina, com alta de 0,83%. Houve altas também em março nos preços do óleo diesel (4,10%) e do gás veicular (5,89%). O etanol teve uma queda de 4,70%.
Ficaram mais caros ainda os automóveis e o transporte de ônibus. Em habitação, houve pressões da energia elétrica (0,37%) e do gás de botijão (1,29%). O gás também foi reajustado pela Petrobras em 16,06% na mesma data dos demais combustíveis, ou seja, o IPCA-15 do mês absorveu apenas pequena parte do reajuste de 11 de março. O gás encanado também subiu: 2,63%. (O Estado de S. Paulo/Daniela Amorim e Guilherme Bianchini)