O aumento do emprego formal constatado há meses pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Previdência mostra uma recuperação vigorosa desse indicador que retrata um segmento importante do mercado de trabalho. Em 12 meses, até janeiro deste ano, foram gerados 2.648.497 novos empregos formais. São números mais do que animadores, mas que talvez não retratem a situação de grande número de trabalhadores.
Uma visão mais ampla do mercado de trabalho, no qual a taxa de desocupação continua alta, o emprego informal e a subutilização da mão de obra ainda têm peso importante na qualidade do trabalho e a renda está sendo comprimida, mostra um cenário ainda preocupante. Em um ano, até janeiro, a renda real média de quem conseguiu manter uma ocupação remunerada, com ou sem garantias trabalhistas e previdenciárias, caiu 9,7%, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua do IBGE.
Em média, os trabalhadores sem registro estão perdendo mais renda do que os com carteira assinada. Mas, embora melhor, a situação não é boa nem mesmo no mercado formal, no qual salários e algumas condições de trabalho são discutidos de maneira coletiva pelos empregados, por meio de organizações sindicais que os representam, com os sindicatos patronais ou empresas isoladamente.
Um balanço das negociações coletivas dos últimos 12 meses mostra que em nenhum mês o reajuste mediano foi superior à inflação. Em metade desses meses, as convenções (entre sindicatos de empregados e de empregadores) e acordos coletivos (entre sindicatos de empregados e empresas) previram apenas a reposição da inflação; na outra metade, o reajuste mediano foi menor do que a inflação. Ou seja, em 6 dos 12 meses até janeiro as negociações coletivas impuseram alguma perda de renda real para os trabalhadores. É o que mostra o Salariômetro, pesquisa sobre o mercado de trabalho realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
Em fevereiro, segundo o Salariômetro, 55,7% das negociações coletivas foram fechadas com reajuste inferior à inflação acumulada em 12 meses. Em valores, o resultado foi um piso médio de R$ 1.444, menor do que a média do período de 12 meses, de R$ 1.461.
É provável que o piso de cada um dos próximos meses continue menor do que a média dos últimos 12 meses, pois, como prevê o estudo, “nos próximos meses, a inflação não deixará espaço para ganhos reais”.
A lenta recuperação da atividade econômica, a persistência de altos índices de desocupação (a geração de emprego formal ou informal também tem sido lenta), a aceleração da inflação, agora puxada por combustíveis e alimentos cujos preços foram impulsionados pela guerra na Ucrânia, e a incapacidade do governo Bolsonaro de dar respostas minimamente sensatas e eficazes aos problemas que o País já enfrentava e que o quadro internacional agravou justificam projeções desanimadoras para a renda dos brasileiros, mesmo os que conseguem manter-se ocupados. (O Estado de S. Paulo)