O Estado de S. Paulo
O Banco Central (BC) admitiu ontem que não deve cumprir a meta de inflação em 2022. No seu cenário de referência, a probabilidade de a inflação deste ano ficar acima do teto da meta, de 5%, está em 97% ante 41% do documento de três meses atrás. Se a projeção se confirmar, será o segundo ano consecutivo que o BC não cumpre a meta estipulada pelo governo.
Em sua justificativa ao ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre não ter cumprido a meta no ano passado, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, argumentou que a inflação é um fenômeno global. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou 2021 em 10,06%, a maior inflação em seis anos.
Segundo o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), o cenário de referência indica um IPCA (índice oficial de inflação) de 7,10% para este ano e 3,40% no próximo. A estimativa para 2022 se encontra muito acima da margem de tolerância da meta de 3,50% (com teto de 5%). Para 2023, a meta é de 3,25%, com margem de 1,5 ponto (taxa de 1,75% a 4,75%). Já para 2024, o objetivo é de 3%, com tolerância de 1,5% a 4,5%. A meta para 2025 ainda não foi definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
O cálculo de probabilidade de furo da meta divulgado ontem tem como base a Selic (taxa básica de juros) variando conforme o Relatório de Mercado Focus e o câmbio atualizado com base na Paridade do Poder de Compra (PPC).
Guerra na Ucrânia
Dada a disparada dos preços do petróleo no mercado internacional por causa da invasão da Ucrânia pela Rússia, a autoridade monetária divulgou também um cenário alternativo para algumas de suas projeções, que leva em conta a trajetória de queda do preço da commodity ao longo de 2022. Não informou, no entanto, até onde essa redução pode chegar. Neste caso, a probabilidade de a inflação deste ano ficar acima do teto da meta também é elevada, de 88%. (O Estado de S. Paulo/Eduardo Rodrigues e Célia Froufe)