O Estado de S. Paulo
Os veículos elétricos de decolagem e pouso vertical (EVTOLS, na sigla em inglês), também conhecidos como “carros voadores”, são um conceito ainda distante da população. No entanto, para a Eve, subsidiária da Embraer criada exclusivamente para esse fim, o negócio já é tratado como uma realidade.
Além do desenvolvimento do veículo, a empresa já começou a fechar parcerias para criar um ecossistema de mobilidade aérea urbana e assim tornar o uso dos EVTOLS acessível, afirma o CO-CEO da startup, André Stein, em entrevista ao Estadão/broadcast.
Na semana passada, a Eve formalizou um consórcio para desenvolver essas soluções em Miami, na Flórida. A ideia, segundo Stein, é desenvolver um modelo que possa ser usado para além do universo da empresa. A startup vem utilizando uma ferramenta desenvolvida com o Massachusetts Institute of Technology (MIT) para modelar de forma detalhada qual seria a melhor malha para operação na cidade americana.
“Em Miami, chegamos a 88 rotas e 32 ‘vertiportos’ (locais destinados à operação dos evtols). Estimamos que (a cidade de) São Paulo tenha quase o dobro desse potencial de mercado”, calcula Stein. “Estamos mapeando diversas cidades para criar uma planta baixa de como seria a operação e podemos aplicar esse conceito para várias comunidades.”
Segundo Stein, a cidade tem potencial para ter de 400 a 500 EVTOLS nos próximos 15 anos. “A ideia é trazer mais uma opção de mobilidade, mas não vamos ter uma mancha no céu.”
Helipontos
A Eve está desenhando o EVTOL para caber nos helipontos atuais, mas com especificidades como estrutura de carregamento.
Há uma preocupação estratégica de que os “vertiportos” específicos precisam estar distribuídos nos melhores pontos das cidades, o que não acontece com os helipontos tradicionais.
De acordo com Stein, existem várias razões para o helicóptero não ter um grande nível de penetração, como custos de combustível e manutenção, além do ruído, que limita a operação. “Nos últimos anos, a aviação comercial vem sendo democratizada, e a ideia é que o EVTOL chegue bem próximo (do custo) do transporte terrestre. A viagem vai ser acessível”, prevê.
A intenção é que o modelo do negócio seja parecido com o da aviação comercial e executiva, no qual uma empresa opera os aviões. “Com isso, o EVTOL fica automaticamente mais acessível. Com o avanço do trabalho remoto, por exemplo, esse conceito se torna mais interessante”, afirma o executivo. IPO. Stein afirma que o cronograma para a abertura de capital (IPO, na sigla em inglês) da Eve está “dentro do planejado”, com as tratativas com a SEC (a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos) indo “muito bem”.
A listagem da Eve em Nova York vai ocorrer por meio de uma combinação de negócios com a Zanite – empresa de propósito específico de aquisição (Spac, na sigla em inglês) –, com valor implícito de US$ 2,4 bilhões. Após o IPO, a Embraer permanecerá como acionista majoritária. A estimativa de receita da Eve é de US$ 4,5 bilhões (cerca de R$ 22 bilhões) em 2030. A carteira de pedidos atual é de 1.785 unidades.
Mas há desafios à frente. Concorrentes da Eve que abriram capital em Nova York no ano passado, como Archer e Joby, tiveram quedas acentuadas de suas ações em meio às incertezas do mercado global, com o investidor buscando opções mais tradicionais.
Em relatório publicado no início do mês, os analistas do Citi Stephen Trent, Brian Roberts e Filipe Nielsen demonstraram ceticismo em relação ao IPO planejado pela Eve e a sua estimativa de receita. (O Estado de S. Paulo/Juliana Estigarríbia)