Montadoras preveem crescimento para 2022, mas com ressalvas

O Estado de S. Paulo/Especial Mobilidade Insights  

 

Aumento da Selic, eleições, variante Ômicron da covid-19 e dificuldade de fornecimento de semicondutores são algumas das variáveis que podem influenciar o desempenho da indústria automobilística no decorrer deste ano. Mesmo assim, o setor mantém a previsão de crescimento para 2022, até porque a base de comparação continua baixa, e o mercado permanece aquecido.

 

A Anfavea, associação que reúne as montadoras, prevê encerrar o ano com vendas de 2,14 milhões de automóveis de passeio e comerciais leves. Ou seja, alta de 8,4% sobre o volume de 2021, quando foram emplacadas 1.974.431 unidades.

 

A previsão de crescimento também se estende ao setor de pesados (ônibus e caminhões). A Anfavea espera fechar 2022 com 157 mil unidades vendidas, uma elevação de 10% sobre o total de 2021, que foi de 143 mil emplacamentos. E isso apesar de o segmento de pesados já ter crescido nada menos do que 37,8% em 2021 em relação a 2020.

 

Dentro do segmento de pesados, a Anfavea prevê crescimento superior a 20% entre os ônibus. A associação estima vendas de 17 mil unidades (ante 14 mil veículos emplacados no ano passado), graças a uma retomada gradual do setor de transporte coletivo, especialmente os destinados ao turismo, após o período das restrições de isolamento e distanciamento social imposto pela pandemia. Ainda assim, a Anfavea estima que o patamar de 17 mil unidades de ônibus por ano está “abaixo do potencial”.

 

No que diz respeito à produção total da indústria, a Anfavea permanece “moderadamente otimista” nas previsões para o desempenho deste ano. A entidade projeta alta de 9,4% sobre o ano passado, com 2,46 milhões de unidades, incluindo veículos leves e pesados.

 

De qualquer forma, para crescer em relação a 2021 a indústria terá de correr atrás do resultado, porque a “largada” foi ruim. Em janeiro, foram registradas apenas 116.601 unidades entre veículos de passeio e comerciais leves. Ou seja, uma queda de 39,75% sobre dezembro e de 28,26% sobre o mesmo mês do ano anterior.

 

Entre os pesados (9.885 unidades em janeiro), a redução foi de 26,89% sobre dezembro.

 

Juros

 

Além dos problemas que rondam o setor desde o ano passado, especialmente a persistência da pandemia (com o aparecimento da variante Ômicron) e a crise global no fornecimento de semicondutores, o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, manifestou preocupação com a taxa de juros da Selic, que atingiu 10,75% no começo de fevereiro, após a oitava alta consecutiva.

 

Ao apresentar o balanço mensal da indústria automotiva, no início de fevereiro, o dirigente alertou para o fato de que a taxa muito elevada pode “derrubar a economia”. Apesar de reconhecer que a elevação dos juros básicos é um mecanismo importante para o controle da inflação, ele teme que uma “dose muito elevada” possa dificultar as vendas e comprometer o PIB.

 

Segundo Moraes, historicamente cerca de 60% dos compradores pessoas físicas recorrem a financiamento para aquisição de automóveis, e a taxa muito elevada pode afetar esse tipo de operação, porque encarece o crédito. A taxa média do Crédito Direto ao Consumidor (CDC), que leva em conta a Selic, está em 26,8%. “Essa elevação pode ter impacto maior do que estávamos considerando”, disse na época.

 

O presidente da Anfavea chama atenção para o fato de que o Brasil está com juro real de 6,4% (descontada a inflação), segundo ele o maior do mundo, e isso pode refrear a atividade econômica. O mercado estima que o Banco Central deve elevar ainda mais a Selic no decorrer do ano, caso a inflação mostre sinais de persistência.

 

Dados da Anfavea indicam que, embora em 2021 o setor tenha apresentado crescimento levemente superior ao de 2020, o volume ficou muito abaixo do esperado no início do ano passado. A falta de semicondutores provocou diversas paralisações de fábricas ao longo do ano. Como resultado, a entidade estima que cerca de 300 mil veículos deixaram de ser produzidos.

 

Ainda assim, a associação informa que o “esforço logístico das empresas” fez com que a produção total (entre veículos leves e pesados) atingisse 2,25 milhões de unidades. Ou 11,6% a mais do que em 2020, um ano em que o setor foi duramente atingido pela pandemia, que resultou em paralisação de produção.

 

Eleições

 

A Anfavea informa que este ano será necessário lidar com sequelas da crise motivada pela pandemia em 2020 e também com a falta de semicondutores, que começou no ano passado. Além disso, outro fator que pode afetar as vendas são os possíveis “reflexos do ambiente político”, por causa da eleição presidencial, marcada para outubro.

 

O impacto da crise global de semicondutores deverá perdurar, mas em um grau menor do que no ano passado. Embora a escassez deva continuar no primeiro semestre, a Anfavea vislumbra “viés de melhora” no segundo semestre. A solução definitiva deve ocorrer somente para 2023.

 

O agronegócio e os investimentos previstos em infraestrutura no decorrer do ano devem sustentar o crescimento das vendas de pesados. O setor é diretamente ligado ao nível da atividade econômica.

 

Retomada dos ônibus

 

As fabricantes estimam que o setor de ônibus, que vem patinando há tempos, volte a crescer em 2022. (O Estado de S. Paulo/Especial Mobilidade Insights/Airton Ponciano)