O Estado de S. Paulo
A redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) não deve resultar, num primeiro momento, em queda nos preços dos automóveis, conforme Antonio Filosa, presidente na América do Sul da Stellantis (que reúne Fiat, Jeep, Peugeot, Citroën e RAM). O executivo, porém, acredita que a medida anunciada pelo governo federal no final de fevereiro pode contribuir para que os valores não subam muito. Ele teme um eventual impulso à inflação – que já vinha em ritmo acelerado no Brasil – pelo conflito entre Rússia e Ucrânia.
Para Filosa, os preços de commodities continuarão a subir, assim como custos com logística e matérias-primas, devido, por exemplo, à suspensão de rotas de voos na região de guerra e dificuldades de abastecimento de alguns componentes. “O corte (do IPI) pode não chegar efetivamente aos preços, mas vai ajudar a não aumentar ou aumentar menos”, diz. Ou seja, será uma compensação da alta inflacionária. A Fiat, diz ele, já não reajustou preços neste mês, como fizeram alguns concorrentes.
Antonio Filosa
O presidente da Stellantis na América do Sul, Antonio Filosa; ano ‘recompensador’ para o grupo, Em conversa com jornalistas na manhã desta sexta-feira, 4, Filosa afirma que o conflito no Leste Europeu deixou a equação de mercado ainda mais complexa Foto: Fiat Chrysler/Divulgação
Segundo o executivo, o conflito deixou a equação de mercado ainda mais complexa. “Neste momento não falta cliente, há filas de espera por alguns modelos, mas falta para nós e para alguns competidores produção, porque as cadeias de fornecimento ainda não se regularizaram, faltam componentes”, explica.
Para ele, caso a guerra termine num prazo curto e a situação de abastecimento melhore, será possível, mais à frente, repassar efetivamente o corte do imposto para os preços. “O importante é que a redução do IPI gera competitividade que, num primeiro momento, gera um alívio nos custos que será repassado mais à frente.”
Híbrido a etanol
O presidente da Stellantis afirma que o grupo – que detém 34% das vendas de veículos no País – vai lançar 23 novos modelos nacionais e importados na região até 2025, sete deles elétricos e híbridos. Um deles deve ser um modelo híbrido elétrico e a etanol, que está sendo desenvolvido pela engenharia brasileira. Outro pode ser uma picape RAM nacional, hoje importada. O grupo promete também 28 reestilizações de carros hoje em linha, além da chegada de uma nova marca ao País. Os projetos estão no plano de investimento de R$ 16 bilhões na região até 2024.
Mercado
Mesmo com as dificuldades atuais, Filosa acredita em crescimento do mercado brasileiro neste ano, entre 4% e 8%, com base em projeções do setor. O grupo vendeu no primeiro bimestre 80,7 mil automóveis e comerciais leves. A Fiat segue como líder desse mercado, com fatia de 20,9%.
A Stellantis encerrou 2021 com resultado operacional ajustado de € 882 milhões (cerca de R$ 4,9 bilhões) na região. É uma participação ainda pequena na companhia, que teve resultado global de € 18 bilhões (R$ 99 bilhões), mas o presidente mundial do grupo, Carlos Tavares, destacou na semana passada que a América do Sul é a região que mais cresceu na empresa.
“Para sustentar nossa liderança no Brasil e na região queremos ter a melhor qualidade nos nossos produtos, investir em inovação e mobilidade, ser ágil na tomada de decisões, estimular a localização de componentes e aproveitar mais os benefícios das sinergias das nossas marcas”, diz Filosa. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)