O Estado de S. Paulo/Mobilidade
Gastos fixos com alimentação, transporte e contas que não param de subir, inflação em alta, pandemia. Do outro lado, o salário (ou falta dele) que não acompanha tudo isso. Se honrar todos esses compromissos já é viver na corda bamba, poupar para o futuro é algo distante da realidade da classe C, já que 60% dela retrocedeu sua renda nos últimos três anos.
O dado faz parte da pesquisa “Não somos todos iguais: A classe C no mundo pós-pandêmico”, realizada pela Consumoteca e encomendada pela 99Pay, carteira digital da 99, empresa de tecnologia voltada à mobilidade urbana presente em 1.600 municípios do País. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estão na Classe C famílias que possuem a soma dos rendimentos entre quatro e dez salários-mínimos (de R$ 4.848 a R$ 12.120).
O levantamento aponta, também, que mais da metade das famílias entrevistadas (55%) vive com uma média de até R$ 3 mil por mês, valor insuficiente para pagar as contas mensais. Nesse contexto, apenas 2% desse grupo consegue se organizar financeiramente para a aposentadoria.
Dívidas também impedem que elas invistam nessa reserva: 45% das pessoas da classe C vivem com o desafio de sobreviver com o dinheiro contado para os gastos do mês, além de pagar parcelamentos de compras realizadas anteriormente (38% contra 35% na classe B e 23% na classe A); 60% dos entrevistados possuem dívidas, dos quais 22% não conseguem pagá-las. Para essa população, conquistar um objetivo financeiro mais caro frequentemente depende de crédito e flexibilidade de pagamento. Além disso, 28% da classe C está com o nome negativado.
Empreender tem sido a saída
A pandemia da covid-19 impactou toda a sociedade, especialmente as mulheres, responsáveis por quase metade dos lares brasileiros (46% dos domicílios são chefiados por elas, de acordo com o IBGE). Com a necessidade de isolamento social, somado à tradicional carga de trabalho doméstico e aos altos índices de desemprego no período, o público feminino se viu obrigado a empreender. Estudo da Rede Mulher Empreendedora (RME), feito durante a pandemia, atesta um aumento de 40% no número de novas empreendedoras em 2020, percentual que pode ser ainda maior por conta da informalidade.
Os aplicativos de transporte se transformaram, também, em alternativa para que elas possam garantir o sustento de famílias — na 99, por exemplo, 5% dos motoristas parceiros cadastrados são mulheres. Maria Helena de Carvalho,
Para muitas mulheres, dirigir em plataformas de transporte é também a oportunidade de conquistar autonomia financeira — em 2020, durante a pandemia, houve aumento de 40% no número de novas empreendedoras
motorista de aplicativo há cinco anos, conta que sua rotina nesse período foi intensa. “Trabalhei todos os dias, inclusive sábados e domingos, tendo restrições apenas em alguns períodos do dia e da noite, de acordo com as recomendações das prefeituras dos locais onde circulei”, revela.
Para ela, foi fundamental poder continuar trabalhando. “Ser motorista de app ajuda no meu sustento pessoal e familiar. Trabalhar e ter independência financeira é muito importante para mim”, acrescenta. Maria Helena explica que o app ajuda a obter renda e ainda oferece orientações sobre educação financeira. “Mantenho os compromissos equilibrados com disciplina financeira, definindo o que é mais importante no momento, além de fixar objetivos no curto e no longos prazos”, destaca. (O Estado de S. Paulo/Mobilidade)