“Em 2022, setor automotivo vai ter maior previsibilidade”, diz diretor-geral da Jaguar Land Rover

O Estado de S. Paulo

 

Divanildo Albuquerque é um gentleman. Ele fala de forma pausada, em tom baixo e mirando os olhos do interlocutor. Assim, o cargo de diretor-geral da Jaguar Land Rover no Brasil, que ocupa desde 2018, ano do 70.º aniversário do Land Rover Série 1, que deu origem ao Defender e à companhia, parece ter sido feito sob medida para o executivo. O recifense ingressou no setor de veículos na GM. Passou pela International (de caminhões), Toyota e Lexus até chegar, em 2011, ao grupo britânico.

 

Albuquerque, que comemora a volta da produção do Range Rover Evoque na fábrica de Itatiaia (RJ) e diz que vai torcer para o Náutico subir à primeira divisão do Campeonato Brasileiro, falou ao Estadão por chamada de vídeo.

 

Como foi o desempenho da Jaguar Land Rover no Brasil em 2021?

Foi um ano desafiador para todos, mas tivemos conquistas, e é importante frisar isso. A Jaguar Land Rover confirmou seu compromisso com o Brasil. Vamos produzir o Range Rover Evoque, juntamente com o Discovery Sport, na fábrica de Itatiaia (RJ). Isso contribuiu para a manutenção de empregos. Também lançamos a Defender 90 e a versão especial Onçafari do modelo, que consolida nossa parceria para preservar onças no Pantanal. São 25 unidades, sendo que cada uma tem o nome de uma das onças que são monitoradas. Os clientes que compraram esses carros contribuíram para o projeto. Além disso, iniciamos o Modern Luxury, que são experiências personalizadas para nossos consumidores. São ações únicas e terão os detalhes revelados em breve. Teremos grandes novidades e apostamos em um bom 2022.

 

Como convencer a matriz a investir no Brasil em um período tão complicado?

Nós competimos com outros países dentro da marca. Mas o Brasil é um mercado estratégico, de grande relevância. O País chegou a ser o quarto maior do mundo em veículos novos e está entre os três, quatro principais em seminovos. Portanto, nosso pensamento é de longo prazo. A retomada da produção do Evoque segue essa lógica. Assim, a estratégia para convencer a matriz são os planos de longo prazo.

 

Com a redução da produção, houve fila de espera?

Obviamente, esse não é um “privilégio” nosso. Houve falhas na cadeia de suprimentos e, sobretudo, falta de chips. Então, a demanda foi superior à nossa capacidade de produção. Mas estamos fazendo de tudo para atender nossos clientes e entregar veículos no timing correto. Esse é um desafio no mundo todo. Em 2022, os problemas logísticos e da cadeia de suprimentos vão continuar. Porém, no fim do ano isso deve começar a melhorar. Seja como for, em 2022 o setor vai ter maior previsibilidade. Ou seja, a situação está melhor que a de 2021, quando tudo estava muito mais nebuloso.

 

A eletrificação é um processo inexorável. Quando a venda de eletrificados vai ser relevante no Brasil?

A eletrificação é uma realidade. Evidentemente, estamos falando de carros 100% elétricos, híbridos e que têm algum nível de eletrificação. E a relevância desse setor só vai crescer. Em relação a datas, é difícil dizer. Isso depende muito do consumidor e também da oferta de infraestrutura. A Jaguar já anunciou que será uma marca 100% elétrica (até 2025). A Land Rover também está ficando cada vez mais eletrificada (a meta para 2030 é chegar a 60% dos produtos vendidos no mundo). Acabamos de lançar o Range Rover Sport eletrificado no Brasil. O novo Range Rover, que anunciamos no ano passado, terá versão 100% elétrica por volta de 2024. Acreditamos que essa solução vai ser cada vez mais relevante, inclusive no Brasil.

 

Quais são as metas para 2022 e o que será feito para alcançá-las?

Em primeiro lugar, vamos consolidar a reestruturação na fábrica, que inclui ajustes para a produção do novo Evoque. Também vamos trabalhar na nossa clínica de restauração. Oferecemos a oportunidade de o cliente reformar completamente qualquer carro da marca. O projeto começou com um Defender de 1996, que foi totalmente refeito. O lançamento da nova Range Rover vai ser no primeiro semestre e deve coroar a mudança d o conceito de design da Land Rover. Também vamos consolidar nossa posição em relação à eletrificação, com o lançamento da versão Black do I-Pace (SUV 100% elétrico da Jaguar). Outras estreias importantes serão o Defender 130 e a versão a diesel do Defender 110, que tem motor muito eficiente.

 

O novo Range Rover tem desenho muito diferente da média. Há risco de o consumidor rejeitar o produto?

Quando a gente lançou o Evoque (em 2011), ele tinha um visual inovador e muito à frente do seu tempo. Por isso, permanece atual até hoje. O I-Pace também era um carro à frente do seu tempo quando foi lançado (em 2018) e inaugurou o segmento de SUVs 100% elétricos. O Range Rover é um ícone, que lança tendências e que sempre foi precursor, um desbravador. Não quero falar muito a respeito do novo modelo, mas ele tem sido muito bem recebido pelo mercado. Mais uma vez, vamos estar na vanguarda. No Brasil, já há até reservas antes mesmo de a gente anunciar o lançamento. Não vou revelar volumes, mas o número de interessados supera o de vendas do modelo anterior em outros anos.

 

Durante o pico da pandemia, cresceram as vendas de itens de luxo. Isso aconteceu nas marcas?

A pandemia trouxe grandes reflexões sobre aproveitar melhor a vida e as conquistas. Isso tem muito a ver com o DNA de nossas marcas. Creio que muitos clientes se sentiram motivados a comprar carros, sim. Seja um mais confortável, como os da Jaguar, ou que tenham ligação maior com a natureza, como os da Land Rover. Por exemplo, as vendas do esportivo F-Type cresceram bem, sobretudo o conversível.

 

As vendas das duas marcas vão crescer em 2022?

Nosso crescimento de vendas será similar ao do mercado. No momento, estamos positivamente cautelosos. Não visamos grandes volumes. (O Estado de S. Paulo/Tião Oliveira)