Um futuro eletrificado inevitável

Correio do Povo

 

A indústria automotiva não está somente na relação de produção e consumo, sem questionamentos sociais, ambientais do presente. Tem agora a incômoda companhia da consciência ambiental que se amplia. E o planeta Terra, que suportou por mais de 50 anos a produção anual de mais de 100 milhões de veículos é colocada contra o muro. As centenas de milhões de jovens querem um mundo habitável. Necessitam de ar respirável, e não querem as florestas somente em velhos documentários de 2021. A produção automotiva muda. E a lição de casa é a sustentabilidade.

 

No início do mês, ao abrir na virtualidade o CES (Consumer Eletronic Show), a presidente mundial da General Motors, Mary Barra, mostrou dados concretos da evolução. A montadora, a mais tradicional do mercado norte-americano, investe 40 bilhões de dólares na produção de 30 elétricos até 2025. Em apenas 9 anos, a GM, acostumada a produzir potentes motores a  combustão, terá uma linha completa de carros elétricos a carbono zero.

 

Mary afirmou: “Vivemos hoje a mais profunda transformação na indústria automotiva”. Segundo ela, a General Motors redefine o futuro numa visão de zero acidentes, zero emissões veiculares, zero congestionamentos. “Não pensamos mais na competição entre marcas. Pensamos na cooperação entre as montadoras e as empresas de alta tecnologia. A finalidade é viabilizar o futuro que nos atuais níveis de destrutividade ambiental é inviável. Temos que nos apressar, não há tempo para adiar nada”, enfatizou a executiva.

 

A General Motors criou uma única plataforma denominada Ultium, para toda a linha de veículos elétricos. Esta plataforma permitiu a economia de muitos bilhões de dólares que serão investidos em duas fábricas de baterias e na instalação de 2 mil pontos de recarga nos Estados Unidos. “A GM é um sólido pilar desta revolução de conceitos na indústria automotiva”, citou a dirigente.

 

A trilha da sustentabilidade na direção ao futuro limpo é árdua e cheia de negacionismo. Mas os políticos honestos e bem-intencionados que batalham por um mundo limpo estão tranquilos, porque sabem que os votos estão cada vez mais atrelados às ações direcionadas à sustentabilidade. Os políticos contra o meio ambiente não são mais aceitos. Principalmente, pelos jovens, que perderão muitos anos de vida por causa da poluição ambiental.

 

A poluição destrói a fonte dos alimentos, desertifica as regiões e acaba com a água e a biodiversidade das florestas. Enquanto o combustível fóssil gradativamente é trocado por fontes renováveis de energia. No Brasil, a queda vertiginosa no volume de água do Rio São Francisco, além das queimadas da Amazônia, aquece o clima e transforma em deserto o solo. A estiagem castiga o Sul, as chuvas em excesso destroem a Bahia e Minas Gerais.

 

Em relação ao futuro próximo dos fabricantes de veículos, as leis ambientais adstringentes induzem ao uso cada vez mais abrangente do carro elétrico. E o marketing das montadoras que coloca a potência do motor como uma necessidade ainda prevalece. Mas por pouco tempo à frente.

 

No Primeiro Mundo é adotado o consumo médio da frota. Na Europa, a rigidez da norma ambiental Euro 7 exige a emissão de no máximo 95 gramas de dióxido e monóxido de carbono por quilômetro rodado. Mas um Porsche 911 GT, com motor com 700 HP, emite em média 400 gramas de dióxido por quilômetro rodado. Para compensar a Porsche, produz carros esportivos elétricos a carbono zero. A Porsche deve seguir a estratégia global do Grupo Volkswagen que acelera a eletrificação das suas 12 marcas até 2035. Ou antes, o que dependerá dos níveis de poluição ambiental. Por enquanto, os motores a combustão prevalecem.

 

A poderosa Toyota se opõe ao radicalismo elétrico. Embora seja a pioneira na eletrificação do automóvel no lançamento do Prius híbrido em 1997. Os carros híbridos fazem sucesso nos mercados de países desenvolvidos e também no Brasil. A Toyota lançou em 2020 o Corolla Cross híbrido, que tem ampla aceitação.

 

E a marca já comercializa com sucesso no Japão e nos Estados Unidos o sedã Mirai, a hidrogênio. Lançado em 2014, o modelo ganhou um belíssimo design na segunda geração, lançada em dezembro de 2020. Há poucas semanas, o Mirai quebrou o recorde em autonomia para carros movidos a energia renovável. Percorreu na França 1.360 quilômetros com 42 litros de hidrogênio líquido no tanque. O carro pode ser recarregado em cinco minutos.

 

Apesar da alternativa a hidrogênio, 80% da frota global em 2030 será elétrica. Em 2040, será 100%. Então, não há dúvidas de que o futuro será elétrico. Pela simples e pragmática razão de que todas as grandes marcas já optaram pela eletrificação do automóvel.

 

Mas isto não impede que os muitos bilhões que estão sendo investidos na pesquisa e no desenvolvimento de veículos sustentáveis resultem em outras fontes de energia. Como o combustível líquido derivado da diversidade vegetal ou carros movidos por levitação magnética. Uma tecnologia utilizada em trens de altíssima velocidade no Japão e na China. A criatividade humana e o rápido avanço tecnológico permitem que a imaginação logo se torne realidade. 9Correio do Povo/Renato Rossi)